O olho não é um instrumento preciso. Daí existir a "ilusão de ótica". O que pensamos ver, de fato, não vimos, mas temos a certeza de termos visto. Testemunhas oculares se enganaram redondamente quando confrontadas com fotos e filmes daquilo que julgavam ter visto. O que guardamos na memória nos trai, porque temos uma lembrança seletiva, só recordamos o que queremos guardar, o que é caro para nós, o que pensamos que teve mais importância. Uma avaliação isenta é quase impossível, pois, para todos os relatos, acrescentamos a nossa impressão, a nossa opinião, a nossa falibilidade como observadores casuais. Assim disse Baudelaire, em seu livro "Palimpsesto": "O que é o
cérebro humano, senão um palimpsesto imenso e natural? Meu cérebro é um
palimpsesto e o vosso também, leitor. Grandes camadas de ideias, de imagens, de
sentimentos, caíram sucessivamente sobre o vosso cérebro, com a mesma suavidade
da luz. A impressão era de que cada uma sepultava a precedente, mas nenhuma
pereceu, na realidade".
14/11/2015