sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Lições de sábado 100


Sempre vivemos amores impossíveis. A primeira paixão, que não podemos conter no peito, nem dizer que amamos o ser que nos ilumina, passa e só deixa vestígios no coração. Depois vem a paixão à primeira vista, que a adolescência elabora, e o namorado se torna único no mundo. Assim vem a primeira decepção e a primeira superação. O amor que veio tão fácil, de repente, some. Outros amores simplesmente não acontecem. Ficam somente na imaginação. E quando o amor chega desavisado, só nos damos conta quanto amamos quando acabou. Amores são sempre impossíveis. Vivemos de contar o que aconteceu, desde o primeiro encontro, o primeiro beijo, a primeira mensagem (em vez de cartas), o primeiro sinal de estarmos enamorados. E quando o amor não passa de suposição, a impossibilidade se estende por quilômetros sem fim. O grande amor se tornou pó de lembrança. Os amores se sucedem como os dias. Podemos encontrar um novo amor (que irá cair na rede das possibilidades), mas sempre os amores que passaram e se tornaram impossíveis serão os mais contados e recontados nas histórias de amor.

30/11/2013 - 2h30


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Lição de sábado 99

Há pessoas que se desprendem de nós como uma casca, uma pele que se solta e não precisamos mais. Durante algum tempo elas estiveram ali, e de um momento para outro, não são mais necessárias. A ferida cicatrizou e a casca caiu. Não precisamos mais carregá-las. Quando algo envelhece, passa ou apodrece, cai de maduro, despenca, acaba. Não há como segurar o que se foi. Vira fumaça. Desaparece. Some no ar. Sublima-se. Mesmo que se pense que algo irá durar para sempre, descobrimos que era efêmero e não permanente. Os bens permanentes e duráveis misturam-se aos efêmeros, mas são os únicos que ficam. Estes passam, aqueles nunca acabam. Se quiser saber o que é efêmero ou permanente, espere: depois de algum tempo só o que ficou é real.

26/11/2013 - 18h44


domingo, 24 de novembro de 2013

Lição de sábado 98

Alguns estados de graça são frutos da inocência. Não sabermos de algo e estarmos no meio de um fato inusitado, inesperado, uma coincidência, um milagre. Um encontro ao acaso é sempre milagroso, porque se opera por razões alheias à vontade. Concorrer para situações únicas é estar disponível para a surpresa. Falar com alguém sem saber que é justamente a pessoa que está procurando. Encontrar um livro sem saber que lhe trará a informação de que precisa. Os estados de graça acontecem por estarmos fora da realidade imediata, em contato com as respostas que pairam acima de nossa cabeça. Então ouvimos. Então sabemos. Então aprendemos. Então seremos testemunhas únicas de fatos que só aconteceram para nós. Essa unicidade é o todo. É a mágica que faz cada um ser um e ao mesmo tempo todos.

24/11/2013 - 8h33


sábado, 23 de novembro de 2013

Lição de sábado 97

"Quando se sentir que está no céu, estará". Essa frase me foi dita há muito tempo ou eu li em algum lugar, na vasta imensidão de coisas lidas e ouvidas, e hoje entendi que só existe céu quando a perfeição de algum momento nos toca, em que nada poderia ser melhor ou diferente. Enquanto buscamos aperfeiçoar algo ou alguém, não vemos o que há de perfeito ali, e talvez jamais vejamos. Mas a perfeição está em coisas sonhadas, em coisas não tidas, em coisas imaginadas. Quando qualquer uma delas desce para o plano real e materializa, estamos no céu e não sabemos. E elas e só elas serão eternas para nós.

23/11/2013 - 18h11

Foto: Necesio Tavares

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Lições de sábado 96


Há dias em que não queremos levantar da cama. Em que o dia passa e não queremos olhar para fora. Tudo parece desordenado e fora do lugar, e arrumar tudo está fora de questão. A vida como ela é não é das visões mais bonitas, embora tenhamos relances de beleza aqui e ali. O que fazer? Não dá para começar de novo, nem apagar o que passou, e quando lhe dizem para olhar para frente, nada parece mais temeroso. Temos de continuar. É o famoso "apesar de" que Clarice Lispector fala. "Apesar de" temos de continuar. Mesmo sem saber se vai dar certo ou como isso acontecerá. Juntamos as forças que temos, e damos o próximo passo, acreditando sem saber. Não saber é tudo que temos. Nada nos dá certezas. Nenhuma carta de tarô irá induzi-lo à verdade. Nenhuma quiromante poderá ajudá-lo a resolver seus problemas. Bola de cristal nenhuma indicará a direção a seguir. Só sua intuição, sua natureza mais profunda poderá lhe dizer o que fazer, porque tudo que está acontecendo de certo e de errado está aí para conduzi-lo, não para desviá-lo do caminho que acontecerá de qualquer jeito. Faz parte do destino poder mudá-lo.

15/11/2013 - 9h51 

sábado, 9 de novembro de 2013

Lições de sábado 95


Ser outro. E por isso podemos ser. Pois sabemos quem somos, então há um caminho a escolher. Escolher não ser é uma opção como qualquer outra. Ser também é. Mas não ser parece que estamos desfazendo o que estava para ser feito e não fizemos. Ser outro. Ser completamente diferente do que esperam que sejamos. Não ser é melhor do que ser. E ser passa a ser o avesso daquilo que sempre fomos. Ou não éramos e por isso mudamos de direção. Ser novamente. Ser o que esquecemos ou que nos lembramos. Ser por escolha e opção. Ser porque acreditamos. Ou deixamos de acreditar. Mas o que fizemos traçou a rota do descaminho. E desandar é ser diferente de tudo, e ser igual, do outro lado de nós mesmos, que nos estranhamos e nos reconhecemos, às vezes.


9/11/2013 - 15h50


sábado, 2 de novembro de 2013

Lições de sábado 94

Por vezes pensamos que não conseguiremos fazer tudo que temos para fazer, e nos esforçamos um pouco mais para conseguir. É esse esforço final que faz a diferença depois da largada. Por mais que tenhamos um longo percurso ela frente, é na hora H que a experiência e o conhecimento contam, pois há perigos quando nos aproximamos da reta de chegada. Qualquer deslize faz com que se perca o pé e nessa hora não se pode errar. O que empreendemos por muito tempo, ou com tempo contado, tem um diferencial das coisas conseguidas ao acaso ou ao longo do caminho: elas mostram que sabemos o que estamos fazendo, mesmo que não tenhamos certeza do resultado, pois este só se consegue no fim, quando alguém pode dizer: "Foi fácil". Nunca é. Nunca sabemos se algo vai dar certo até conseguirmos. É como partida de futebol, ou um jogo de tênis: depende das probabilidades, e não só do talento. Conseguir fazer algo por esforço próprio não mostra apenas tenacidade, mostra que se sabe o que se quer.

2/11/2013 - 22h21