segunda-feira, 30 de junho de 2014

Lições de sábado 140

Como no Eclesiastes, para tudo há um tempo, um tempo de espera, um tempo de colheita, um tempo de semear. De todos esses tempos, vivemos constantemente às voltas com todo tipo de problema, questões e posicionamentos. E palavras. Há um longo tempo de espera para os retornos. O retorno de Júpiter, o retorno de Saturno, Urano e Plutão, o retorno dos dias que não voltam mais, mas nos seguem em procissão. As mudanças repentinas, as longas viagens, as ausências, as presenças, as constâncias e inconstâncias, os esquecimentos e as lembranças, artifícios da memória, os sonhos, os pesadelos, os infernos e paraísos. Tudo se edifica e se destrói continuamente. Então, reconstruo. Arrancadas as raízes das antigas semeaduras, replantamos a floresta. E os laços, os vazios, os abraços nunca serão esquecidos, embora o corpo permaneça sozinho. E nenhuma presença reconstituirá o que se foi. Vivemos apesar de todas as circunstâncias e não somos senão testemunhas de nós mesmos, arremedos de seres sem motivos. Inventamos nossas próprias provisões. Inventamos a história que criamos a partir do que foi deixado para nós. Escutemos os antigos e os novos. Escutemos as repetidas palavras que são ditas a esmo. Façamos outras histórias para que sempre possamos contá-las. E ao ouvi-las teremos aprendido algum sentido para nós.


27/06/2014 – 21h03 / 30/06/2014 – 1h12


sábado, 28 de junho de 2014

Lições de sábado 139


Futebol como metáfora. A linguagem do dia a dia está impregnada de termos de futebol. Saiu pelo escanteio, deu confusão no meio de campo, partiu pro gol, dividiu a bola. Mesmo quem não assiste aprende o vocabulário. Futebol serve para criar assunto e dar bom dia ao ascensorista que tem seu radinho com ele. Todos os porteiros de todos os prédios sabem o que está acontecendo num campeonato. Futebol é o equalizador social mais bem bolado do planeta. Faz com que todo mundo fique de olho. Hariklia Papapetrou, minha amiga grega, torce pela Grécia e pelo Brasil. Valéria Mac KNight assiste a um jogo irradiado em alemão por um comentarista que torcia pelo Chile. Os brasileiros em todas as partes do mundo estão de olho no que está acontecendo por aqui. E nós vivemos no abençoado país do futebol, com fé num Deus brasileiro. Charles Miller quando trouxe as bolas e os uniformes da Inglaterra não sabia o que estava fazendo por nós, nem pelo país onde nasceu. E penso que o futebol me ensina não só a usar sua linguagem como metáfora, mas a agir como se sempre estivesse em campo, numa partida para ganhar. Se Neymar Jr., Hulk, Fred, Julio Cesar não existissem, hoje estaríamos mais tristes. Se Pelé, Tostão e Rivelino trouxeram o Tri, e depois veio o Tetra e o Penta, aprendemos ao longo da vida que aqui não é só o país do futebol, abençoado por Deus e bonito por natureza, aqui estamos nós mais uma vez vivendo o futebol como metáfora, passando para a bola toda a nossa emoção de ser quem somos, num país que pede para ser feliz.

28/06/2014 - 23h40


Lições de sábado 138


A emoção é o sinal de que percebemos que estamos diante de algo que sabemos o que é embora não compreendamos. Compreender não é sentir. Não é emoção. A razão tenta aprender com a emoção e manipulá-la. Tenta racionalizar o sentimento. Embora conheçamos nossas reações, há reações que não compreendemos, nem que as analisemos profundamente. Analisar é racionalizar a emoção. E a emoção não admite racionalizações. O que é emoção brota imediatamente ao sentimento de uma parte de nós que não pensa, só sente. Se eu sinto sem pensar, então eu sei sem ter motivo, apenas sei. Se eu penso, não sinto, só penso. As lágrimas são emoção entendida pela parte de nós que não pensa. Se eu sinto, e a emoção é forte demais para ser contida, eu choro, e o choro é o primeiro sinal de que alguém dentro de nós entendeu, mesmo sem saber o quê, nem por quê.


22/06/2014 - 2h36 Para Hariklia Papapetrou, que sempre espera pelas Lições de sábado. Obrigada, querida.



segunda-feira, 9 de junho de 2014

Lições de sábado 137


A paixão é a grande razão da existência. Seja pelo que for, o que fazemos por paixão, fazemos sem esforço. O esforço que não sentimos é a adrenalina que nos leva adiante e nos faz saltar os empecilhos como galgos. Aquilo que escolhemos fazer por coincidência ou instinto, o que nos cai nas mãos por acaso, o que começa por impulso ou oportunidade, é a grande chance de descobrir por que estamos aqui. Aquilo que nos é dado de presente, por vezes, é tudo que precisamos para iniciar a carreira de nossa vida, mas isso não quer dizer que vai ser de graça. Pode custar caro. Muito tempo, muita dedicação. E isso tem importância? Nem medimos a distância que atravessamos, ou quantas vezes nos exercitamos para chegar à (quase) perfeição. Quanto tempo de estudo e leitura, quantas vezes tivemos de recomeçar do zero. Ou quantas pessoas erradas escolhemos para serem nossas parceiras. O que vem fácil, vai fácil. Então a dificuldade é o grau de perfeição. Se Deus dá o frio conforme o cobertor, vamos ter que nos virar com o equipamento que nos deram. Fazemos nossas escolhas a partir de nossas paixões, porque se não houver paixão, não haverá trabalho. Será apenas sofrimento e descaminho. Até que nosso caminho cruze a nossa frente novamente. 

7/06/2014 - 21h48



sexta-feira, 6 de junho de 2014

Lições de sábado 136

O ano passa estupidamente rápido e fazemos coisas demais o que não deixa que curtamos o que estamos fazendo, porque temos de passar de uma coisa a outra sem intervalo, sem interrupção, sem tempo de nos refazer. E o descanso por exaustão não nos recupera. Vivemos traumatizados por falta de tempo, falta de dinheiro e por isso o excesso de trabalho para compor o orçamento. Esse excesso é uma doença. Temos de achar a cura ou morrer disso.

2/06/2014