Como no Eclesiastes, para tudo há um tempo, um tempo de
espera, um tempo de colheita, um tempo de semear. De todos esses tempos,
vivemos constantemente às voltas com todo tipo de problema, questões e
posicionamentos. E palavras. Há um longo tempo de espera para os retornos. O
retorno de Júpiter, o retorno de Saturno, Urano e Plutão, o retorno dos dias
que não voltam mais, mas nos seguem em procissão. As mudanças
repentinas, as longas viagens, as ausências, as presenças, as constâncias e
inconstâncias, os esquecimentos e as lembranças, artifícios da memória, os
sonhos, os pesadelos, os infernos e paraísos. Tudo se edifica e se destrói
continuamente. Então, reconstruo. Arrancadas as raízes das antigas
semeaduras, replantamos a floresta. E os laços, os vazios, os abraços nunca
serão esquecidos, embora o corpo permaneça sozinho. E nenhuma presença
reconstituirá o que se foi. Vivemos apesar de todas as circunstâncias e não
somos senão testemunhas de nós mesmos, arremedos de seres sem motivos. Inventamos
nossas próprias provisões. Inventamos a história que criamos a partir do que
foi deixado para nós. Escutemos os antigos e os novos. Escutemos as
repetidas palavras que são ditas a esmo. Façamos outras histórias para que
sempre possamos contá-las. E ao ouvi-las teremos aprendido algum sentido para
nós.
27/06/2014 – 21h03 / 30/06/2014 – 1h12