quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Lições de sábado 259

Livros de poesia são pièces de résistance. Quando tudo o mais parece fenecer, eles sobrevivem dando novo fôlego a quem pensa que está no fim. Quando não há mais nada a ser feito, os poemas são escritos, na solidão, na clausura, na prisão, no exílio. As cantigas de amor e de amigo surgiram na distância. A poesia supre quando se pensa não mais haver saída, porque é escrevendo que aprendemos a esperar. E os que leem aprendem também. Como o poema de William Ernest Henley, que Nelson Mandela leu durante 30 anos em sua cela, acreditando que um dia iria sair de lá, invicto, com a cabeça erguida, como diz o poema. Muitos poemas alimentam nossos sonhos e constroem a nossa fé. Seja escrevendo ou lendo-a, a poesia tem sido o cimento para abrirmos as estradas para onde queremos ir. 
Minha tradução para o poema de William Ernest Henley (1849-1903):
INVICTUS (1875)

Diante da noite escura que me cobre,
Como uma cova aberta de um lado a outro,
Agradeço aos deuses
Por minha alma invencível.
Nas garras vis das circunstâncias,
Não titubeei, nem chorei.
Sob os golpes do infortúnio,
Minha cabeça sangra ainda erguida.
Além deste vale de iras e lágrimas,
Assoma-se o horror das sombras,
E apesar dos anos de ameaças,
Sempre me encontrarão destemido.
Não importa quão estreitas sejam as passagens,
Nem quantas punições sofrerei:
Eu sou o senhor do meu destino:
Eu sou o capitão da minha alma.
Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta
William Ernest Henley escreveu o poema em 1875, mas somente o publicou em 1892, numa coletânea chamada "Echoes".