domingo, 28 de julho de 2013

Lições de sábado 80

Há algum tempo aprendi que para conhecer alguém é preciso tomar três xícaras de chá. Na primeira, somos uma visita. Na segunda, somos um convidado de honra. E na terceira, fazemos parte da família, por quem se faz qualquer coisa. Assim sucedem os relacionamentos, em que é preciso ter tempo e espaço para que as coisas aconteçam. A natureza não dá saltos. E ela é seletiva. Como a xícara de chá é tomada aos poucos, conhecer alguém leva tempo, o mesmo tempo entre semear e colher. As estações e as distâncias servem para nos ensinar paciência, assim como os astros, em sua eterna lentidão e mobilidade. Tudo está parado e se move. A poesia nos dá a sensação de permanência. E só ela para nos dar certezas. Como a folha de chá que nos aquece com sua infusão secular, uma tradição tão antiga quanto a própria existência.

29/07/2013 - 00h14


sexta-feira, 26 de julho de 2013

Lições de sábado 79

Quando penso em todas as coisas ditas e feitas, vejo quanto somos frágeis, quanto somos diminutos, e nada podemos fazer para conter o tempo ou as coisas, e que só nos resta amar o presente que vivemos, pois não haverá outra coisa para nós, não haverá ouro nem diamantes que nos deem a felicidade que almejamos.

26/07/2013 - 19h30

Cerâmica: As luas de Picasso.




quinta-feira, 25 de julho de 2013

Lições de sábado 78

Haverá dias que não teremos nenhuma resposta. Teremos de esperar que venha o que tanto aguardamos e o mistério se dissolva como cinzas na água. Os copos ficarão vazios esperando a liquidez dos momentos e que tudo se dilua definitivamente. Somente vivemos um dia de cada vez e um não antecede o outro, mesmo dito em sonhos. Os sonhos sussurram nossos segredos, mas não conhecemos sua língua. Símbolos não dizem o que são: esperam ser decifrados. Enquanto não sabemos, boiamos na aquosidade circunstancial de todas as horas.

25/07/2013 - 12h33 - Dia do Escritor

Foto de Vitor Vogel.

sábado, 6 de julho de 2013

Lições de sábado 77

O que compensa o cansaço é a satisfação de ter feito o que eu queria. Nunca serei suficientemente grata por essa chance tão grande, essa oportunidade tão especial de estar ali no dia em que Marília teria se casado. No final do dia 30, fomos Leila Oli, Vitor Vogel e eu visitar o Museu da Inconfidência, e ao sairmos, soaram os sinos da Ave-Maria, às 6 horas da tarde. Estava cumprida nossa missão. Encontramos professoras do Espírito Santo, que aproveitaram a leitura que fizemos de duas liras diante dos túmulos de Marília e de Dirceu, uma para cada um. Foi um momento mágico. Ali estávamos invocando a memória de um dia que não houve como fora planejado, mas planejei homenageá-los nesse dia, e consegui, mesmo pouco antes do museu fechar. Vi um exemplar da 1a. edição de "Marília de Dirceu", de 1792, avaliado em US$ 40,000 exposto junto com todos os outros objetos relativos à Inconfidência. Libertae quae sera tamen. Liberdade ainda que tardia. "Como tardou a liberdade", diz Marília em suas liras. É preciso agora contar essa bela história de amor, arrancada de seu âmago por vingança. A liberdade veio pelas mãos de D. Pedro, em 1822, que Marília viu acontecer, mas muitos dos inconfidentes, não. Tomás Antônio Gonzaga não viu. A vida seguiu e hoje podemos contá-la, para que não se esqueçam dela.

2/06/2013  

 

Lições de sábado 76

Somos os novos seres do amanhã.
Hoje vencidos pelo ontem que já passou.
Renovamos os passos, pois eles sempre se renovam.
Somos novos a cada dia, mesmo que não vejamos.
Não vemos o que passa, só o que passou.
Não vemos o presente, nem o instante, que não dura.
Temos somente a lembrança do que houve e o desejo
pelo que virá.
O futuro cabe todo no pensamento.
Vivamos o agora para que ele dure para sempre.


19/06/2013 


 

Lições de sábado 75

Homem bom vem pronto. A minha pesquisa sobre homens históricos provou que homem bom tem que ter boa origem, ser bem criado por uma mãe ou avó amorosa, alguém que lhe dê certeza e segurança para ser quem ele é, e ter bom caráter, ter um bom pai ou figura paterna, e querer sempre fazer o bem. Se ele se desviar desse caminho por algum motivo, nem sempre poderemos acreditar que terá conserto, pois não se conserta homem torto. Se ele nasceu para ser quem é, fará tudo para seguir seu caminho. Se nasceu para ser errado, nada nem ninguém o corrigirá, a não ser a vida, que sabe ser madrasta dos maus filhos.

(Imagem de Marco Polo, mercador e explorador de seu tempo, admirado por suas aventuras nas viagens que fez à China, Índia e Oriente Médio no século XIII, escrevendo seu "Livro das Maravilhas" ou "Il Millione", onde ele narrou nem a metade do que viu.) 

1/07/2013 


Lições de sábado 74

Tanto a ser feito e sequer fazemos metade do que queremos. Deixamos para amanhã o que não cumprimos hoje. Hoje se estende além do futuro, porque imaginamos o que não vemos. Queremos tudo, e tudo só é feito dia a dia. Amanhã será novamente hoje. E hoje é apenas um dia para tudo o que queremos.

3/07/2013 - 19h18


Lições de sábado 73

O passado é o húmus do futuro. Vivemos de colher e plantar. Semear para a próxima colheita. O que hoje recebemos tem de novo de ser replantado. O dia se segue à noite, e a noite ao dia. Um ciclo interminável se molda à nossa frente, e somos levados adiante infinitamente. Conhecemos novas pessoas, reencontramos antigos amigos, refazemos os mesmos caminhos, e tudo parece novo aos nossos olhos. Vivemos de partilhar. O que temos pode ser repartido mil vezes e mil vezes colhido, mil vezes semeado. Como as páginas de um livro que guarda as palavras para um dia serem lidas pelas primeira vez.

3/07/2013 - 19h09