terça-feira, 25 de agosto de 2015

Lições de sábado 220

Eu deveria estar habituada, mas não há como me habituar com surpresas. Se tivéssemos previsão de tudo que vamos fazer, não haveria emoção alguma em fazê-lo. O que os distingue é a novidade. O que não sabemos como irá acontecer. Se começo algo sabendo exatamente como vai terminar, que graça tem? Posso desejar que termine bem, mas isso não me garante o resultado. O passo a passo é que me faz acreditar que estou no caminho certo. A surpresa é inerente. Nada termina como começou, nem nenhum livro sai como entrou. Ele sofre um processo de transmutação entre ideia e realização. Quando me veem com um livro "pronto", eu sempre aviso que ele poderá mudar, não porque eu queira, mas porque o próprio livro quer. É o livro que pede a mudança. Quando entrei naquela livraria para esperar o horário do cinema, não esperava que eu fosse ser puxada pela manga para olhar uma publicação que tinha uma palavra que eu precisava consertar no livro que estava revisando. Toda vez que erramos numa revisão, em seguida, vem o conserto através de outro livro, de uma matéria no jornal ou notícia na TV, ou até numa conversa ao acaso, ou placa de rua. É o acaso que faz com que percebamos os erros. Tudo é muito sutil, não dá para explicar por que acontece assim, apenas que acontece. Já me vi tantas vezes enredada em revisões que não sei como vão acabar (mas que acabam), que só quando estou com o produto final nas mãos eu sei que consegui terminá-lo. Quando me trazem um livro "pronto", eu digo: "Não é assim que se faz". O livro faz a si mesmo, e nos refaz junto com ele. Eu tenho que descobrir o que o livro quer, porque como todo ser novo, ele quer toda a atenção que merece.

25/08/2015 - 12h15