quinta-feira, 30 de maio de 2019

Lições de sábado 360


Nessas horas que penso em minha mãe. Ela era a melhor companhia em momentos de crise e de alegria. A melhor pessoa para ajudar a superar emoções. Deve ser porque ela esteve ao meu lado nas piores horas e nas melhores também. Me acompanhou quando fui fazer provas, exames, viagens, quando estive doente, com febre, cansada, e quando acabavam os relacionamentos. Mamãe me acompanhava em tudo, mesmo quando não precisasse estar ali. Sua disponibilidade era total. Nessas horas lembro dela e percebo como era reconfortante que ela estivesse ali. Sem dizer nada ou dizendo exatamente o que eu precisava ouvir. Não é sempre que se tem companhia nos momentos difíceis ou de crise. Mas ela estava sempre que precisasse dela. Ela se fazia necessária. Agora penso no que ela me diria. Como me faria rir. Longas horas de conversas em viagens de carro. Acontecesse o que fosse ela dizia: "Estou aqui". Deve ser isso que distingue as presenças. Mesmo que não prestemos atenção. Até o dia que se vão.
26/05/2019 - 10h05


Lições de sábado 359


A vida, a vida é essa série de fatos que vão se perfilando sem parar, uma sucessão de novidades inimaginadas, versos ainda não escritos que pespontam, como um mar de idas e vindas inesgotáveis. A vida, a vida nos surpreende sempre. E nos dá a chance de responder. Quando vivemos algo que nunca imaginamos possível, sabemos que está acontecendo algo inédito. E que foi feito sob medida por algum motivo. Mesmo que não saibamos qual. Quando era adolescente, eu, muito inteligente, chamava de "razão intrínseca", algo que poderia ser dito, ou não, mostrado ou não, e que aconteceria independente do nosso conhecimento. Não precisamos saber por que, mas a razão existe, inalcançável.

24/05/2019 - 5h57


terça-feira, 14 de maio de 2019

Lições de sábado 358


Tomados pelo amor, Tristão e Isolda, relutam, até o fim, para se entregar ao que o destino lhes reservou. Um amor maior do que eles mesmos, que aceitam e negam, e são capazes dos maiores sacrifícios para vivê-lo. A tragédia em pleno ar. Um não pode se sobrepujar à vontade do outro. A vontade de um tem que conter a vontade do outro, e irmanarem-se em seu afeto. A pureza dos sentidos tira-os da realidade e devolve-os ao lugar onde essa entrega se realiza, muito além deles, além de suas forças, onde jamais estariam se não se amassem. O que vemos diante dos olhos foi feito para nos ludibriar. Nada é tão simples quanto parece e tudo precede algo melhor. Se hoje não fiz tudo que queria, amanhã poderei ter essa chance, e vivemos mais nos interregnos do que quando estamos realizando. "A espera que é magnífica", já disse André Breton em seu "L'amour fou", onde cabem todos os gestos, principalmente os amorosos. Nada sabemos, mas tudo podemos fazer, mesmo sem conhecer a fundo todas as possibilidades. Quando não souber o que fazer, não faça nada: é melhor errar por omissão. Ninguém pode culpá-lo por não saber.

18/11/2012 - 14/05/2019



domingo, 12 de maio de 2019

Lições de sábado 357

Curioso como um livro pode mudar a vida de alguém e por causa disso a vida de outras pessoas. Como sempre, Shakespeare está no começo de tudo. Se não fosse um exemplar que pertenceu a certa Juliet Ashton, e ela escrever seu nome e endereço na folha de guarda do livro, Dawsey Adams, na ilha de Guernsey, entre a Inglaterra e a França, não teria entrado em contato com ela para perguntar sobre o livro, pedindo o endereço de uma livraria em Londres, já que não há livrarias na ilha onde ele vive (em 1946). O filme se baseia num romance histórico de Mary Ann Shaffer, que tem o mesmo título (traduzido errado) "Sociedade Literária e da Torta de Casca de Batata de Guernsey", mas muda completamente o desenrolar da história mantendo apenas o começo e fim iguais. Mesmo assim vale a pena assisti-lo. Filmes de guerra e pós-guerra são interessantíssimos por nos mostrar uma realidade que se passou há 80 anos, mas que ainda exerce um enorme fascínio. O filme me falou de várias coisas e ainda sobre Charles e Mary Lamb que resolveram escrever as peças de Shakespeare para crianças, transformando-as em contos, publicado em 1807. E ainda falar sobre as irmãs Brontë como se não fosse o assunto preferido de toda autora inglesa. Por tudo, vale o filme. Mas o livro tem outra história, que é tão boa quanto. A carta que ela escreve para Dawsey no final contém trechos que reconhecemos como nossos. Um livro pode transformar a vida de alguém (tive vários que mudaram a minha) e através de livros conhecer as pessoas que precisamos encontrar. 

12/05/2019 - 1h36