domingo, 2 de outubro de 2022

Lições de sábado 375

Se todos os meus amigos são unânimes em suas opiniões, por que duvidar deles? Se outros amigos, por sua vez, divergem desses, que amigos são esses? 

Notei que havia filas para votar. Das duas uma: ou tem mais gente votando, ou tem menos lugar para votar. Acho que são as duas coisas. Porque só faz fila se tiver muita gente para entrar no mesmo lugar. 

Muitos amigos fotografando seu voto. Fazendo vídeo, declarando sua preferência. Hoje quando se vê uma camisa verde e amarela, sabemos que não é torcedor do Brasil, é eleitor daquele cara que entrou porque encontrou a porta aberta. 

Em 2018, eu não votei nele. Eu não iria conseguir dormir se tivesse votado, mesmo achando que o PT tinha culpa de tudo. E agora? O jogo virou, a bússola girou, o vento mudou e estamos partindo em outra direção. Tomara que mude de vez e nos livremos de uma família que adora comprar imóveis que valem milhões. Eu não entendo essa fixação por casas milionárias. 

Nunca fui rica, mas tive berço. Estudei nos melhores colégios, aprendi com os melhores professores, tenho uma árvore genealógica invejável e, no entanto, não fiquei milionária com o que sei, embora meus pais tenham gasto uma fortuna para me educar. 

O mundo mudou. Hoje não é necessário ter berço para chegar a algum lugar, nem saber nada para ter dinheiro. Vejo doutores errarem feio no português, mas têm doutorado. Eu não tenho. Mas sou eu que corrijo o que eles escrevem errado. 

Brasileiro não sabe escrever. Se soubesse, não erraria tanto. Fico pasma de ver como todos erram as mesmas coisas. Sinceramente, onde foi que deixamos de saber escrever?  

Seja qual for o resultado da eleição hoje, sei que nós tentamos mudar a direção do barco. Mais gente foi votar, fosse no Brasil ou fora dele. Na Nova Zelândia, em Portugal e na França já chegam os resultados. 

Viva Lula, por tudo que isso significa. 

2/10/2022 - 15h21


 

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Lições de sábado 374

Eu sempre trabalhei no Carnaval. Morando em São Paulo desde os 19 anos, o Carnaval era momento de silêncio e reclusão. Não se ouvia nenhum batuque ou bloco, valendo mesmo o apodo de “Túmulo do Samba”. Aproveitava para ler e escrever o que estivesse atrasado, fossem cartas ou meu diário. Era um período que eu aguardava com ansiedade porque eu sabia que teria os dias de folia só para mim. Não teria que dar aulas, não teria que sair, não teria que ia a parte alguma, e ficaria naqueles quatro dias entregue aos meus afazeres. Enquanto os outros se esbaldavam em bailes em clubes fechados, eu tinha esse tempo livre para pôr tudo em dia. 

Eu não via carnaval na TV, nem me importava com nenhuma campeã, afinal isso estava acontecendo no longínquo Rio de Janeiro. A única vez que fui a um baile foi aos dez anos de idade, num clube em São Paulo levada por minha mãe que achava que eu tinha que “brincar” no Carnaval. Pra nunca mais. Lembro ainda de um baile infantil que meu pai me levou no Theatro Municipal quando os desfiles ainda eram na Avenida Presidente Vargas e os blocos desciam a Avenida Rio Branco. Aí inventaram o Sambódromo, o Carnaval mudou-se para lá, mas a cidade continua insuportável. 

Quando voltei ao Rio de Janeiro, tive que me lembrar do que era conviver com o Carnaval após 23 anos de exílio. Até escrevi um conto quando ainda morava no Rio, aos 18 anos, chamado “Carnaval ou quase isso”, inspirada em Mario de Andrade. Esse é um Carnaval que não existe mais. Logo depois, me mudei para São Paulo e o Carnaval acabou. Mesmo tendo voltado para o Rio, continuo trabalhando no Carnaval, pois é o melhor momento para fazer o que nunca tenho tempo de concluir. São dias contínuos sem interrupção, como um feriado prolongado. O que mais temos no Brasil são feriados, e agora o que mais temos é Carnaval.

18/04/2022 - 11h53