terça-feira, 31 de maio de 2016

Lições de sábado 252


A poesia se escreve sem palavras, mas com palavras se escreve o poema. Com palavras se diz sim ou não, embora a boca não pronuncie nenhum som quando sorri. A boca assim comportada sabe quando falar e quando calar. Há poesia no silêncio. Mas há palavras num poema. Sem dizer nada, consigo expressar o que palavras não conseguem dizer. Os olhos falam. O silêncio fala. A língua nem se move. Mas ela se agita para dizer o poema e para dar e receber o beijo. Como na música, o poema é feito de palavras e silêncios, as pausas entre os versos, quando a mente começa a girar. E, nesse giro mágico, estão os sentimentos, que pousam sobre os olhos e a boca, e lhes devolvem o silêncio.

31/05/2015 - 17h25


domingo, 29 de maio de 2016

Lições de sábado 251

O que será depois que eu passar? A longa jornada que nunca finda. A infinda caminhada para onde não sei que vou. Sei, no entanto, porque vou. Não há sentido em não ir, não há sentido em ficar parado, nem em esperar. Espero enquanto sigo. Sigo esperando que passe tudo que deve passar, e reste apenas o inexorável sentimento de quem superou tudo, viveu tudo, viu tudo, e ainda que ver e viver mais. Porque há muito mais a ser vivido depois de viver tudo que havia para se viver.

29/05/2014 


sexta-feira, 20 de maio de 2016

Lições de sábado 250

Aprendemos a caminhar caminhando. A falar, falando. A amar, amando. Tudo é prática imediata. Nada em teoria se pratica. Só a prática é praticada. E o que em teoria não se aplica, na prática, pode ser explicada. Aprendi a ler, a escrever, a compreender, a deduzir, a somar e subtrair, a dividir e multiplicar. Aprendi, inclusive, a aceitar e a não aceitar. Aprendi o que se leva muito tempo para aprender, e o que se aprende imediatamente, através do amor. O amor é prática. E amor, só na prática. Em teoria, não existe.
20/05/2016 - 19h40




segunda-feira, 16 de maio de 2016

Lições de sábado 249

O menino encontra Manuel Bandeira na praça
Meu amigo Pedro Lage, aos dez anos, conheceu Manuel Bandeira, apresentado pela avó, numa feira de livros no centro da cidade. Ao saber que aquele era o poeta que havia escrito os poemas que ele lera, imediatamente perguntou a Bandeira:
- Você esteve em Pasárgada?
O poeta sorriu e disse que não. Pedro ficou inconformado. 
Nessa história, três coisas me assombram: primeiro, ter tido a chance de encontrar o poeta apresentado pela avó, segundo, conhecer o poema "Vou-me embora para Pasárgada" aos dez anos de idade, e terceiro, ter feito essa pergunta a ele à queima-roupa. Só um dos fatos já me encantaria, mas os três juntos, são sublimes.
16/05/2016 - 17h12


domingo, 15 de maio de 2016

Lições de sábado 248

Há muita semelhança nos acasos: tudo que se parece guarda um sinal mais antigo que já estava lá.
16/05/2016 - 0h50



Lições de sábado 247


O que os olhos não veem o coração não sente, pois se vissem, o que pensariam? Imaginar, essa arte que antecede o feito, concilia o não visto com o que se pode ver. Ver na mente é concebê-lo e do concebido partimos para a forma, à execução, ao ato. Não basta querer: é preciso realizá-lo. Mãos à obra.


15/05/2016 - 1h07



Lições de sábado 246

Quem tem histórias maravilhosas para contar, escreve livros. Conta suas próprias histórias. Quantas coisas vivemos que nem contamos. E quando as reproduzimos é que percebemos como aqueles fatos nos moldaram, nos fizeram ir à frente, sem perceber. E como tivemos sorte.

14/05/2016 - 23h37


sábado, 14 de maio de 2016

Lições de sábado 245

Lendo sobre a guilhotina, e vendo fotos que tirei em Versailles em março de 2005, constato como o tempo une contradições e signos contrários. Aqui onde os Luíses de França viveram, onde o fausto e ostentação existiram, a débacle da Revolução Francesa, seguida da imperiosa ascensão de Napoleão, que só depois de Waterloo retomou seu curso, até a II Guerra Mundial, dividida entre a França do governo conivente e a Resistência, De Gaulle, Mitterrand, Sarkozy e agora Hollande, surge como símbolo deste país que serviu de exemplo para tantas nações, incluindo a nossa. A guilhotina foi usada até 1977 e desativada por Mitterrand em 1981, quase 200 anos depois de ter sido usada pela primeira vez, em 1792. Maria Antonieta, uma das mais célebres executadas, entrou na história da França pela porta da frente e morreu como herege. Lembra-me Leopoldina que se sacrificou pelo povo brasileiro, depois de dar-lhe um herdeiro e lutar pela Independência. Essas mulheres são sempre os pivôs de todas as mudanças cruciais na História da humanidade. Como uma coisa leva à outra, a Inconfidência Mineira, que aconteceu ao mesmo tempo que a Revolução Francesa, é a referência para todas as mudanças que aconteceram depois. Da França ao Brasil, a história continua. E, ao olhar por essas janelas, colocamo-nos no mesmo lugar desses Luíses, dessas rainhas que um dia governaram a França e olhamos para o horizonte, onde surgia o nosso Brasil.

6/11/2011