segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Lições de sábado 93

A felicidade é um estado heterogêneo em que nos sentimos felizes sem saber porquê. Ora por estar no lugar certo, ora por ter feito algo certo, ora por motivo nenhum, apenas a sensação de estar tudo bem, sem ter feito nada para isso, ora por nos descobrirmos entre as pessoas certas que nos dão a sensação de estar fazendo o que devemos e sermos bem acolhidos entre elas, sem que precisemos fazer algo para isso. Ser quem somos é a única forma de nos sentirmos felizes, mesmo que não gostem de nós. Não podemos agradar a todos, senão às pessoas certas que gostam de nós como somos. Os outros vão ter de ficar sem nós. Paciência.

26/10/2103 - 18h33



sábado, 19 de outubro de 2013

Lições de sábado 92

Vinicius de Moraes completaria hoje 100 anos, mas quanto nos deu enquanto viveu é infinito. É um dos compositores mais famosos do mundo só porque compôs com Tom Jobim, "Garota de Ipanema". Ele foi a A a Z em tudo. Como diplomata, como cidadão brasileiro e do mundo, como marido, como pai, como amante de todas as mulheres que amou. Vinicius deixou um legado imenso de música e poesia. E quando se pensa que isso se esgotou, lá vem ele de novo, como poeta a inspirar a todos. Seu "infinito enquanto dure" do "Soneto de fidelidade" é um bordão que não sai da mente de ninguém, nem o seu "Soneto de separação", ou o "Soneto do amor total".

Vininha era botafoguense, e compôs um soneto para Garrincha, o Anjo das Pernas Tortas. O que ele fizesse, entrava para História, pelos amigos que teve, pelas mulheres que teve, pelas parceiros que teve, pelas canções que compôs. Tudo em Vinicius era permanente, mesmo o que fosse efêmero. Aprendemos com ele a amar quando era impossível, a ser quando não conseguíamos, a recomeçar quando acabava. "Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas vale menos do que eu, porque a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amor, pra quem chorou, pra quem sofreu. Ah, quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não". E por aí vai. Seus parceiros se eternizaram com ele, Baden, Tom, Chico e Toquinho. 

Quando morreu aos 66 anos, Vinicius deixava um rastro de amor, música e poesia. É a melhor forma de alguém viver - dar-se ao máximo de si mesmo, e receber do outro o máximo também. E o que viesse era lucro. Amar é uma profissão de fé: ou se ama ou não. Vinicius de Moraes era profissional nisso. Sabia amar como ninguém. Feliz centenário, Vinicius de Moraes.

19/10/2013 - 18h41

sábado, 12 de outubro de 2013

Lições de sábado 91

Quando somos crianças, não pensamos no futuro. O presente, o aqui e agora é tudo que interessa. Só queremos saber o que vamos ganhar, o que vamos fazer, o que vamos dizer neste minuto. Tudo é espontâneo e rápido, brincamos de qualquer coisa e logo mudamos de assunto, sem nos afetar com isso. Tudo nos impacta sobremaneira, somos muito impressionáveis. Uma história bem contada, uma música bonita, um lugar interessante, uma paisagem assombrosa. Montanhas azuis que desaparecem no horizonte até se perderem de vista. Tudo é belo ou assustador. O que nos acontece é instantâneo. E não nos perguntamos por quê, pois a velocidade das descobertas supera tudo, faz tudo se encaixar como num quebra-cabeça. Minhas memórias da infância remontam à mais tenra idade, em que eu mal sabia falar, mas entendia tudo. Uma ida ao banheiro sozinha num avião virou uma aventura. Voltei trazendo um pedacinho de papel higiênico que puxou o resto do rolo pelo corredor que eu queria mostrar para minha mãe, sentada na primeira cadeira, por estar grávida de meu irmão: "Olha o que eu achei, igualzinho em casa". "O que você fez?", perguntou minha mãe. Ao olhar para trás e ver que o rolo se desenrolara atrás de mim, eu disse: "Eu não fiz isso". Mas não adiantou. Fiquei de castigo, amarrada na cadeira no avião até o fim da viagem, de onde eu não podia mais sair. Eu tinha um ano e meio. Mas sabia o que era justo e injusto. Um senhor sentado atrás de minha mãe, quando me levantei para ir ao banheiro, me disse: "Você é muito linda". Eu dei de ombros, porque sempre me diziam isso. Quando voltei com o papel higiênico na mão, ele disse: "Você é muito feia!", e eu me lembro de ter pensado: "Esse homem não sabe o que diz, uma hora eu sou bonita, outra hora eu sou feia!" Quando somos crianças, nada parece fazer muito sentido e, ao mesmo tempo, faz todo sentido para nós. 

12/10/2013 - 19h34 - Dia da Criança.

Abaixo Pedro Rollemberg e Beatriz Motta, em 1996, com 6 e 5 anos, os dois filhos mais lindos do mundo. A foto, claro, é minha.