sábado, 12 de outubro de 2013

Lições de sábado 91

Quando somos crianças, não pensamos no futuro. O presente, o aqui e agora é tudo que interessa. Só queremos saber o que vamos ganhar, o que vamos fazer, o que vamos dizer neste minuto. Tudo é espontâneo e rápido, brincamos de qualquer coisa e logo mudamos de assunto, sem nos afetar com isso. Tudo nos impacta sobremaneira, somos muito impressionáveis. Uma história bem contada, uma música bonita, um lugar interessante, uma paisagem assombrosa. Montanhas azuis que desaparecem no horizonte até se perderem de vista. Tudo é belo ou assustador. O que nos acontece é instantâneo. E não nos perguntamos por quê, pois a velocidade das descobertas supera tudo, faz tudo se encaixar como num quebra-cabeça. Minhas memórias da infância remontam à mais tenra idade, em que eu mal sabia falar, mas entendia tudo. Uma ida ao banheiro sozinha num avião virou uma aventura. Voltei trazendo um pedacinho de papel higiênico que puxou o resto do rolo pelo corredor que eu queria mostrar para minha mãe, sentada na primeira cadeira, por estar grávida de meu irmão: "Olha o que eu achei, igualzinho em casa". "O que você fez?", perguntou minha mãe. Ao olhar para trás e ver que o rolo se desenrolara atrás de mim, eu disse: "Eu não fiz isso". Mas não adiantou. Fiquei de castigo, amarrada na cadeira no avião até o fim da viagem, de onde eu não podia mais sair. Eu tinha um ano e meio. Mas sabia o que era justo e injusto. Um senhor sentado atrás de minha mãe, quando me levantei para ir ao banheiro, me disse: "Você é muito linda". Eu dei de ombros, porque sempre me diziam isso. Quando voltei com o papel higiênico na mão, ele disse: "Você é muito feia!", e eu me lembro de ter pensado: "Esse homem não sabe o que diz, uma hora eu sou bonita, outra hora eu sou feia!" Quando somos crianças, nada parece fazer muito sentido e, ao mesmo tempo, faz todo sentido para nós. 

12/10/2013 - 19h34 - Dia da Criança.

Abaixo Pedro Rollemberg e Beatriz Motta, em 1996, com 6 e 5 anos, os dois filhos mais lindos do mundo. A foto, claro, é minha.


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