sábado, 28 de outubro de 2017

Lições de sábado 322

"As melhores coisas acontecem aos sábados", me disse Tonton, um amigo paraibano em Recife. Assim o avô dele se referia ao dia em que a família se reunia para o almoço, depois ele se deitava para a sesta e era acordado com os beijos da avó, Aurélia, escolhida aos 15 anos, quando a viu na janela de casa. Desmanchou o noivado e disse: "Vou me casar com ela". Ele se chamava Aureliano, mas, por um desses erros que ninguém explica, todos os seus documentos traziam Aurélio Ferreira e Aurélio ficou. Aurélia também era Ferreira e ficaram casados por 50 anos. A família que nasceu desse par não poderia ser menos divertida. As bisnetas, Ana Clara e Maria Antônia, de 7 e 4 anos, levam o pai à loucura com suas brincadeiras e observações. Clara tem os olhos do pai e ao se olhar um dia no espelho, disse, espantada: "Pai, os seus olhos estão em mim!" As melhores coisas acontecem aos sábados, dizia seu Aurélio Ferreira. Eu também acho. Aos sábados, a vida parece ter mais sentido, como Vinicius tão bem explicou: "Porque hoje é sábado". 

28/10/2017 - 10h02


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Lições de sábado 321

Como noivos prometidos que aguardam o encontro sem nunca antes terem se visto em longínquos países do Oriente, assim aguardamos a chegada, o desembarque, a vinda, sem saber o gosto, ou o toque, ou a visão do amado, envolto em espera e mistério, atenuado pelas palavras ditas, mas que em nada diminui a expectativa das antigas promessas e que tudo se acomode e se dispa das estranhezas que há nesses encontros, em que o rosto irrevelado se mostre tão meigo quanta a fala de sua voz sussurrada.

28/03/2013





Lições de sábado 320

Devo aos meus professores tudo que aprendi e me deu vontade de estudar. Aprendi com eles a pesquisar e me tornei pesquisadora. Aprendi com eles outras línguas, e me tornei tradutora. Aprendi com eles o Direito, e descobri que todos podem ser defendidos, o lado mais difícil de entender num processo. O advogado não julga, senão seria juiz. Aprendi, principalmente, com minha mãe, a me interessar por todos os assuntos, abrindo um leque de possibilidades para a sobrevivência. É mais fácil perguntar o que eu não fiz. Fiz teatro, estudei violão, fiz balé, publiquei livros, traduzi, aprendi a cozinhar, a revisar, a editar, a fazer amigos, a defender minha opinião, a ter opinião e a fazer escolhas, mesmo que me arrependa delas depois. Aprendemos por tentativa e erro. Aprendemos com o tempo. Aprendemos duramente a discernir. E a fazer escolhas errando menos.
22/10/2017 - 10h08


Lições de sábado 319

Quando eu penso que já li todas as notícias horríveis no jornal, vem sempre uma mais horrível pra provar que eu estou errada. Essa do menino de Goiânia se junta à dos refugiados de Myanmar e ao ataque terrorista na Somália. Cabral condenado a 72 anos, Nuzman que sai da prisão em 24 horas, fora o corporativismo político e judiciário que liberou Aécio, mas não da vergonha nacional. Na Rocinha, o fogo come solto e Crivella despacha na Macumba. Bala perdida mata idoso em bar no Alemão. Minha mãe fez a urbanização da Rocinha na década de 60/70. Fez Vila Aliança, Cidade de Deus e Vila Kennedy. E ainda o Parque (não Aterro) do Flamengo com a Lotta Macedo Soares. A luz vai ficar mais cara. Dólar fecha a R$ 3,19. Alta de 0,44%. A Catalunha quer pegar o touro à unha. Isso é conversa pra boi dormir. E uma chuva de meteoros é atração no final de semana até o começo de novembro. E ainda tem mais. Mas nenhuma nota sobre Somália ou Myanmar. Faltou jornal?
21/10/2017 - 10h36


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Lições de sábado 318

"Filhos, melhor não tê-los". Melhor. Acabou o poema. Porque se os tivermos vamos descobrir quão ingratos, desagradáveis e malcriados serão. Filhos, melhor não tê-los, porque é muito difícil ser mãe e não esquecer de si mesma. Nessa hora, acusam de "mãe desnaturada". Não, filhos desnaturados. Porque a mãe tem direito de ser quem ela é, como os filhos também têm direito de ser quem são. E para isso é preciso estabelecer bem esse contrato de relacionamento. Limites. Respeito. Direitos iguais. Filho pode? Mãe também pode. Uma mulher de 39 anos nunca deve ter um filho a não ser que queira. Não é obrigação de ninguém. Aos 15 anos, eu já me preocupava com isso, quando escrevi o "Tratado das supermães ou Segredo de vida em plenitude", em que eu recomendava que as mães deixassem seus filhos partirem para o mundo, sem tentar prendê-los. Hoje, há filhos de 30, 40 anos que não saem de casa. São adolescentes retardatários. Não têm vida própria, não têm sua família, etc. Mas não importa. A mãe será sempre mulher, mesmo que tenha muitos filhos. E, se não tiver, terá a si mesma, a melhor filha do mundo.
5/10/2017 - 18h