domingo, 3 de dezembro de 2023

Lições de sábado 378

A intuição deveria ser melhor utilizada - para nos ajudar a resolver questões insolúveis - do que para saber coisas frugais, mas deve ser o primeiro estágio da intuição avisar que a filha está chegando em casa ou quem está ligando no telefone. Já fui avisada de coisas mais sérias e mais complexas, com uma precisão milimétrica. E sempre só avisam uma vez. Algumas vezes são avisos reincidentes para que eu não o negligencie. Nosso instinto de sobrevivência está ligado a essa intuição, que nos ajuda a trafegar com mais segurança e pelos lugares certos, principalmente dizendo o que não devemos fazer. Alexandre, o Grande não fazia nada sem consultar o oráculo - um hábito entre os gregos. Deveríamos prestar mais atenção aos pequenos avisos e com o tempo aprender a expandi-los.

Por duas vezes, ao usar um relógio de pulso Ômega, que comprei na Suíça em 1984, me avisaram com um dia de antecedência que a bateria iria acabar. Cada bateria dura 4 anos e a troca não foi em anos sucessivos. Acho muito curioso como algo completamente "insignificante" possa ter relevância, mas como eu disse, deve ser para treinar os ouvidos. Um desses "avisos" em breve se tornará um livro. Por alguma razão que desconheço, herdei cartas da ex-noiva do meu pai, que esteve presente no dia do enterro dele. Antes de fecharem o caixão, observando minha mãe se debulhar em lágrimas, eu ouvi nitidamente uma voz me dizer: "Está presente aqui uma mulher que está chorando por seu pai como se fosse ela a viúva". Claro que não pude identificá-la, mas no dia seguinte à missa de sétimo dia, minha mãe me liga para dizer que Iza, a ex-noiva do meu pai queria de volta as cartas que escrevera para ele. Surpresa, eu perguntei se ela estava no enterro, quando minha mãe disse que sim. Eu disse que picava, rasgava, queimava as cartas, mas não devolvia nada, porque ela não tinha direito de vir falar mal de meu pai depois de ele ter morrido. E esqueci o assunto. No dia do aniversário de 80 anos de meu pai, as cartas ressurgiram, encontradas por acaso pela minha mãe no meio da estante, pois Iza nunca viera buscá-las, mesmo depois que eu disse que ela poderia. Aí, sim, eu resolvi lê-las, quando descobri a história de amor mais quente que já tinha ouvido falar. Mas descobri que meu pai não se casou com ela por vingança, pois ela o havia rejeitado antes. E jurara a si mesmo que iria se casar com uma mulher completamente diferente dela. Resultado, escolheu minha mãe. Ou seja, ela é a razão da minha existência. Sem ela, meu pai jamais teria decidido que minha mãe seria a mulher perfeita para ele. Entre se conhecerem e casar, foram dois meses. Iza amargou mais de dez anos esperando que meu pai a desposasse, antes de ele sumir na estrada. Minha intuição me avisava que eu deveria prestar atenção nessa história que depois poderia se tornar um romance epistolar. Senão, para que me avisar que ela estava presente ao enterro? Tenho histórias de coincidências, avisos, intuições, acasos objetivos, sincronicidades de cair o queixo. Minha vida é cheia delas, nada é por acaso, e sempre me avisam de alguma coisa, e algumas vezes eu não sei entender os avisos. Isso me aborrece. Eu tenho que treinar mais, e estar mais atenta aos avisos que valem a pena ser ouvidos, não só baterias que acabam ou pessoas que telefonam. A intuição, como instinto animal, serve para nossa preservação. Os elefantes não se afogaram no tsunami, porque correram para o alto das montanhas. Como eles sabiam? Vai saber... Rio de Janeiro, 3 de dezembro de 2012