sábado, 28 de janeiro de 2012

Lições de sábado 13

Não podemos amar o que amamos, porque ele nos escapa como um peixe. No lugar, nos põe o que não amamos, para ver se aprendemos a amá-lo. E morremos de saudade do que tivemos, do que nunca aconteceu, só uma impressão de que houve, em algum lugar, aquele fato. Não podemos amar quem amamos, porque ele se faz de distraído, e nos engana dizendo que nos ama. E o pior: acreditamos. Melhor nunca ter vivido do que ser preterido. Tentamos a todo custo refazer o caminho e quem sabe encontrar alguém que também esteja procurando.

28/01/2012 - 15h

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Lições de sábado 12

"Tudo o que muda a vida vem quieto no escuro, sem preparos de avisar". (Guimarães Rosa, em "Dão La-La-Lão", novela em "Noites do Sertão")

Nossas escolhas têm dois sentidos: aquilo que escolhemos e o que não escolhemos. Uma opção nos leva à outra, inesperada, que vem a reboque, como um prêmio ou uma prenda. Fatos inusitados que transformam nossas escolhas em outras que não fizemos. São os caminhos que seguimos entrecortados de atalhos ou cruzamentos, que vez por outra nos surpreendem: não era bem aquilo que esperávamos e, repentinamente, a vida muda de rumo. O que poderia acontecer não acontece, e nos vemos vivendo algo inédito que não havíamos planejado. E agora? Não dá para voltar atrás, não dá para desfazer o feito, não dá para pegar o dinheiro de volta, não dá para dizer que desistimos. Entramos numa senda sem volta para um lugar que não temos a menor ideia onde é. Só sabemos que ao chegar lá, haverá outro cruzamento que nos levará mais além e, de escolha em escolha, a vida decide por nós o que devemos fazer. Só muito depois (quando algum capítulo acaba) entendemos que aquele percurso foi necessário para que escolhêssemos o certo: caminhos tortos que acabam por acertar nosso destino.


21/01/2012 - 1h25

Lições de sábado 11

"Hoje é sábado, amanhã é domingo". No compasso da semana, o sábado serve de interlúdio, de pausa, de reflexão para aqueles que passam os cinco dias anteriores labutando pelo seu ganha-pão. Há, no entanto, aqueles que trabalham nos fins de semana e não cessam suas atividades senão em alguma folga semanal. Há outros que nunca fecham, que as 24 horas do dia são incessantes, que, alternando-se em turnos sempre estão prontos para atendê-lo. A esses, devemos nossa gratidão, por deixar pronto o prato, o café, a revista, o livro, o filme, a música, pois os insones sempre precisarão deles. A noite é como o dia, só não tem sol.
14/01/2012 - 10h42
 

domingo, 8 de janeiro de 2012

Lições de sábado 10

Todo sábado começa na sexta-feira, seja porque é fim da semana ou por antecipação. Na sexta, todos já se preparam para o melhor - seja lá o que for acontecer no dia seguinte. Sábado é o dia do descanso, mas ninguém pára, porque estão todos ocupados em "aproveitar", seja lá qual for a programação. Tem que ter alguma. Não importa o que for feito, é melhor do que fazer nada. (Quem deliberadamente não quiser fazer nada, é porque já fez tudo antes.) Sábado é o dia da revolução pessoal, quando todo mundo decide que será diferente, irá dormir até mais tarde, ou não irá trabalhar - descansar é preciso. E sendo o último dia do ano, é obrigatório não fazer nada. Sábado sagrado para todos os efeitos ecumênicos de sagração do ano velho em novo.
31/12//2011 - 1h38
Amamos o passado não pelo que foi, mas pelo que lembramos dele. Nem sempre guardamos todos os fatos como ocorreram, mas o que melhor podemos aproveitar deles hoje. A memória fica nos trazendo coisas que não queremos esquecer e não importa se elas se foram há muito tempo e nada mais reste do que passou, continuamos a acalentar a lembrança como se fosse presente... e deixamos o presente de lado, como se não estivesse acontecendo, quando é no presente que estamos e só nele podemos viver. O passado foi bom (lembramos bem), mas nem tudo valeu a pena. E o melhor do passado é que passou e só o que lembramos de bom (isso, sim) vale a pena trazer para o hoje e levar para o futuro as boas amizades, os bons pensamentos, os bons gestos, as boas palavras, tudo que pudermos usar novamente nos dias que virão.
31/12/2011 - 2h
365 dias não resumem um ano, pois ele começa muito antes e continua depois. Contamos o tempo em anos para compartimentá-lo e prender os fatos aos dias. Mas há momentos que duram para sempre e outros se extinguem logo depois que acontecem, então os anos não contam o que vivemos, porque podemos ficar ligados a um instante por uma eternidade. Os dias são a forma de amealhar o tempo, em que as horas representam os gomos de uma laranja inteira. Vive-se aos poucos e só contam os momentos de que nos lembramos: somente aí estávamos despertos.
31/12/2011 - 17h43