sábado, 28 de dezembro de 2013

Lições de sábado 110

Hoje, último fim de semana do ano ensolarado no Rio de Janeiro, queria que o tempo passasse mais devagar para aproveitá-lo bem. As tardes, que são lindas, poderiam durar um pouco mais, e o tempo seria mais gentil com o que temos de fazer. Por mais que se façam coisas, nunca fazemos todas, e há algumas que parecem que não andam. Arrumamos o que tem que ser feito com o que se fará, e sabemos o que descartamos, pois nunca poderemos fazê-lo. Há perdas e profundas separações, e saudades e atrasos, em que olhamos para nossa própria vida como se fosse de outro. O que traria comigo que é meu? De fato, isso já está aqui. E o resto deixamos pelo caminho. E estar aqui a falar sobre isso me acalenta e não me deixa entristecer. Porque dentro de nossa finitude, há uma sensação de infinito que não cessa.

28/12/2013 - 9h59


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Lições de sábado 109


O amor é uma coisa para lá de engraçada. Primeiro, não sabemos como ele começa. Depois, ele não avisa quando vai embora. E, enquanto fica, não se sabe o que vai acontecer. Ou seja, não sabemos nada, nem quando vamos começar a amar novamente, ou sobre quem já amamos há muito tempo. De repente, descobrimos que alguém sempre foi importante e... nada mais aconteceu. O amor é um desperdício bem calculado. Enquanto não temos a menor ideia do que fazer, aprendemos, a todo instante que só sobrevivemos com ele.

27/12/2013 - 20h27



quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Lições de sábado 108

Eu sempre lembro do meu professor de História Geral, Heródoto Barbeiro, no cursinho do Objetivo, em 1976, falando da Alemanha do pré-guerra: "E a república?" "Vai mar... Vai mar..." Hoje ele é jornalista de um telejornal, e de todos os professores e todas as aulas durante aquele semestre, só me lembro das dele. Deve haver um bom motivo para isso. A pixação da estátua de CDA me deixou indignada. Como dizia meu avô Trajano de Barros Camargo, no mundo há gente para tudo e ainda sobra gente para mascar fumo. Ele tinha razão. Uma das razões é não ter noção nem perspectiva histórica. Sem saber quem é Drummond, pixa-se a estátua dele ou arrancam seus óculos. "É necessário ter-se uma visão histórica para não se ter uma visão histérica". Quem disse essa frase, Roberto Campos, nosso eterno Bobby Fields, sabia o que estava dizendo. O que nos leva de volta às minhas aulas de História com Heródoto Barbeiro, jornalista, historiador, professor e advogado, nascido em 1946. Deve ser por isso que eu gostava tanto das aulas dele: por prezar a história contemporânea que ele lecionanva, tanto ele quanto o professor de História do Brasil. Quem pixou a estátua de Drummond deve ter sido reprovado em História e em todas as matérias que cursou, incluindo a de civilidade. Deixem em paz as estátuas. Elas estão lá para nos lembrar quem eles foram, e não para serem agredidas nem depredadas. Drummond escreveu "Papai Noel às avessas" por um bom motivo. Ele sabia que há pessoas que andam para trás.

25/12/2013 - 18h26

Lições de sábado 107

O ano novo antecipou-se. Como todo mundo sabe que depois do Natal vem o Ano Novo, já começaram a comemorar o réveillon, que é o que interessa. O Natal vem como entreato, após o Dia de Ação de Graças, que entra como preâmbulo para o Natal. Não desfazendo da importância do nascimento de Cristo, mas como sabemos que é pró-forma, ninguém se atém aos detalhes. Fazemos do Natal uma antecipação para o Ano Novo, porque todo mundo está de olho no que virá, não no que passou. Assim soltam fogos, comemoram do mesmo jeito como se fossem embarcar num transatlântico. Aliás, a ideia de juntar o Ano Novo com o Natal foi do Papa Gregório XIII, em 1582, quando ele inventou o calendário que usamos até hoje. Além de tirar dez dias do ano e redatar tudo que aconteceu antes, passou o Ano Novo para uma semana depois do Natal, que já era comemorado em 25 de dezembro desde o século IV (o ano novo anteriormente era comemorado em 1o. de abril), passando a comemorá-lo em 1o. de janeiro, dia de São Basílio, que também distribuía presentes, como São Nicolau (que virou Papai Noel), comemorado em 6 de dezembro. O que importa hoje é o sincretismo de uma data que era celta e depois virou cristã, carregando a árvore de Natal (um símbolo celta) com o nascimento de Cristo (antecipado) e o réveillon para fazer logo duas festas de uma vez. Espertinho esse papa. A propósito, ele se achava dono do mundo. O calendário gregoriano (o nosso) leva o nome dele. Fogos de artifício no Brasil é para festa de São João, em junho, mas já que estamos comemorando, vamos celebrar do jeito que a gente sabe, soltando fogos. Feliz Natal!

25/12/2013 - 18h21


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Lições de sábado 106

Dia de Natal parece sábado. Um sábado que é a preparação para o domingo, que é o Dia do Senhor, como na liturgia católica. Domini Dei. Por isso Vinicius disse que "há perspectiva de domingo, porque hoje é sábado", mas se não é sábado e sim véspera de Natal, outras histórias vêm à mente como a do "Conto de Natal", de Dickens, em que Mr. Scrooge não gosta de gastar nem uma tora de lenha a mais para aquecer seu fiel empregado. E passa a noite de Natal tendo visões dos Natais passados, presentes e futuros. Em que Natal fomos felizes? Que Natal gostaríamos de ter? Que Natais teremos no futuro? A noite de Natal serve como reflexão, mesmo que não se acredite em todos os seus símbolos, de tão misturados que já foram em 2.000 anos de história. A celebração pelo retorno da primavera já era conhecido entre os celtas. O solstício de inverno para eles representava isso, mas não existíamos nessa época. Aqui o solstício de verão tem outra representação. Por isso Papai Noel barbudo com seu trenó puxado por renas não se encaixa em nosso país tropical. Mas os símbolos falam por si só, mesmo que sejam múltiplas as explicações. É fim de ano e por isso já temos muito que comemorar. Agradecemos pelo novo Papa, o Homem do Ano, que unificou todas as religiões num só pensamento de paz. Agradecemos por Mandela que ensinou o mundo a ser igual. Agradecemos pelas nações buscarem um pouco mais de união e cordialidade. Civilidade deve ser ensinada. Nascemos brutos, como diamantes não lapidados. É preciso aprender a ser humano, isso se ensina, isso se aprende. Feliz Natal a todos, aos de perto e aos de longe. Que todos os símbolos nos sirvam como guia para redescobrirmos a noite de Natal.

24/12/2013 - 12h55

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Lições de sábado 105

Há amores que não passam. Não, o amor não passa. Podemos mudar de lado, de vida, de instante, mas aquilo que fomos no momento em que amamos nunca se dissolve. Somos pouco para o amor que sentimos. Não damos conta de quantas pessoas amamos profundamente. Não conseguimos falar com todos os amigos, todas as pessoas importantes em nossas vidas. Vivemos nos lembrando de alguém que gostaríamos de ter falado e terminamos sem falar. Somos negligentes e relapsos quanto a dar conta do nosso amor a todos que amamos. Então, quando tiver chance de expressar o amor que sente, faça-o. Poderá não haver outra ocasião para isso. Expressar alegria é a melhor forma de confirmar o amor que se sente. Senão nunca poderá ser registrado. E ser imensamente grato pelo amor que damos e retribuímos. Algumas coisas só acontecem uma vez. Nunca se sabe quando se repetirão. A repetição é um luxo com que não podemos contar. Amor exige presença. E presença é hoje.  

18/12/2013 - 17h42



domingo, 15 de dezembro de 2013

Lições de sábado 104


A amizade é o primeiro elo entre os seres. Da mãe por seu filho, do filho por seus pais, do irmão pelo irmão, o amor filial, fraternal, maternal, paternal não passam de amizades com laços sanguíneos. A amizade sem o sangue é o mesmo sentimento por pessoas que conhecemos ao acaso, ou nos são apresentadas pelo destino. Essa amizade inexplicável é o que nos aproxima de pessoas de quem não sabemos nada e, subitamente, nos vemos envolvidos por um amor profundo e sem razão. Dizem que não escolhemos a família, mas podemos escolher os amigos. E viver apenas com eles. Mesmo que a família se disperse, e nos afastemos dos parentes, não nos afastamos dos nossos amigos. Esses que a vida escolheu para nós e nos oferece, para que os aceitemos ou não. Nada na vida é para sempre, mas certos amigos têm o dom da perpetuidade. Onde quer que estejamos, eles nos acompanham. O que quer que façamos, eles nos apoiam. Há amigos inesquecíveis. E que amamos mais do que a outros. E mesmo que não os vejamos, estão em nosso pensamento. Esse amor é o que nos mantém acima de todas as coisas que possam nos afetar. Se eu fosse Aladim, e tivesse a lâmpada mágica, e me fosse concedido um desejo, eu pediria um amigo. O maior tesouro do mundo. 

15/12/2013 - 20h30 

 

domingo, 8 de dezembro de 2013

Lições de sábado 103

A vida dói, porque é intensa. Dói, porque a vemos pelo avesso, porque a vemos por dentro como ela é. Só nós sabemos o que nos custa amar e viver. Por isso dói como nada mais consegue doer.

7/12/2013 - 10h40


Lições de sábado 102

Quando aprendemos docemente tudo que nos ensinaram e trazemos para o presente o que nos foi dito transformamos o aprendido em fato e o ensinamento em história.

7/12/2013 

 

sábado, 7 de dezembro de 2013

Lições de sábado 101


Como diz Breton, "só acontece o que não se espera". Ao sair da bem ajustada linearidade dos trilhos, encontramos não apenas um novo caminho, mas o que deveríamos descobrir. E dentro da novidade do inesperado, inventamos um novo equilíbrio, uma nova forma de nos manter inteiros, mesmo perdendo parte de nossas referências. Habituamo-nos rapidamente às novidades. O que era antigo, torna-se novo, e o que costumávamos fazer, deixamos de lado. A nova experiência traz tudo que precisamos saber. Como um livro novo que acabamos de comprar e abrimos suas páginas pela primeira vez. A novidade é tudo. E traz em si mesma um sentimento inesquecível. Tudo que fazemos pela primeira vez fica, ou que fazemos com o coração, atentos, despertos. Não só o primeiro fica. Ficam aqueles a que nos dedicamos inteiramente. Só vivemos o que podemos nos lembrar.

7/12/2013 - 8h00


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Lições de sábado 100


Sempre vivemos amores impossíveis. A primeira paixão, que não podemos conter no peito, nem dizer que amamos o ser que nos ilumina, passa e só deixa vestígios no coração. Depois vem a paixão à primeira vista, que a adolescência elabora, e o namorado se torna único no mundo. Assim vem a primeira decepção e a primeira superação. O amor que veio tão fácil, de repente, some. Outros amores simplesmente não acontecem. Ficam somente na imaginação. E quando o amor chega desavisado, só nos damos conta quanto amamos quando acabou. Amores são sempre impossíveis. Vivemos de contar o que aconteceu, desde o primeiro encontro, o primeiro beijo, a primeira mensagem (em vez de cartas), o primeiro sinal de estarmos enamorados. E quando o amor não passa de suposição, a impossibilidade se estende por quilômetros sem fim. O grande amor se tornou pó de lembrança. Os amores se sucedem como os dias. Podemos encontrar um novo amor (que irá cair na rede das possibilidades), mas sempre os amores que passaram e se tornaram impossíveis serão os mais contados e recontados nas histórias de amor.

30/11/2013 - 2h30


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Lição de sábado 99

Há pessoas que se desprendem de nós como uma casca, uma pele que se solta e não precisamos mais. Durante algum tempo elas estiveram ali, e de um momento para outro, não são mais necessárias. A ferida cicatrizou e a casca caiu. Não precisamos mais carregá-las. Quando algo envelhece, passa ou apodrece, cai de maduro, despenca, acaba. Não há como segurar o que se foi. Vira fumaça. Desaparece. Some no ar. Sublima-se. Mesmo que se pense que algo irá durar para sempre, descobrimos que era efêmero e não permanente. Os bens permanentes e duráveis misturam-se aos efêmeros, mas são os únicos que ficam. Estes passam, aqueles nunca acabam. Se quiser saber o que é efêmero ou permanente, espere: depois de algum tempo só o que ficou é real.

26/11/2013 - 18h44


domingo, 24 de novembro de 2013

Lição de sábado 98

Alguns estados de graça são frutos da inocência. Não sabermos de algo e estarmos no meio de um fato inusitado, inesperado, uma coincidência, um milagre. Um encontro ao acaso é sempre milagroso, porque se opera por razões alheias à vontade. Concorrer para situações únicas é estar disponível para a surpresa. Falar com alguém sem saber que é justamente a pessoa que está procurando. Encontrar um livro sem saber que lhe trará a informação de que precisa. Os estados de graça acontecem por estarmos fora da realidade imediata, em contato com as respostas que pairam acima de nossa cabeça. Então ouvimos. Então sabemos. Então aprendemos. Então seremos testemunhas únicas de fatos que só aconteceram para nós. Essa unicidade é o todo. É a mágica que faz cada um ser um e ao mesmo tempo todos.

24/11/2013 - 8h33


sábado, 23 de novembro de 2013

Lição de sábado 97

"Quando se sentir que está no céu, estará". Essa frase me foi dita há muito tempo ou eu li em algum lugar, na vasta imensidão de coisas lidas e ouvidas, e hoje entendi que só existe céu quando a perfeição de algum momento nos toca, em que nada poderia ser melhor ou diferente. Enquanto buscamos aperfeiçoar algo ou alguém, não vemos o que há de perfeito ali, e talvez jamais vejamos. Mas a perfeição está em coisas sonhadas, em coisas não tidas, em coisas imaginadas. Quando qualquer uma delas desce para o plano real e materializa, estamos no céu e não sabemos. E elas e só elas serão eternas para nós.

23/11/2013 - 18h11

Foto: Necesio Tavares

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Lições de sábado 96


Há dias em que não queremos levantar da cama. Em que o dia passa e não queremos olhar para fora. Tudo parece desordenado e fora do lugar, e arrumar tudo está fora de questão. A vida como ela é não é das visões mais bonitas, embora tenhamos relances de beleza aqui e ali. O que fazer? Não dá para começar de novo, nem apagar o que passou, e quando lhe dizem para olhar para frente, nada parece mais temeroso. Temos de continuar. É o famoso "apesar de" que Clarice Lispector fala. "Apesar de" temos de continuar. Mesmo sem saber se vai dar certo ou como isso acontecerá. Juntamos as forças que temos, e damos o próximo passo, acreditando sem saber. Não saber é tudo que temos. Nada nos dá certezas. Nenhuma carta de tarô irá induzi-lo à verdade. Nenhuma quiromante poderá ajudá-lo a resolver seus problemas. Bola de cristal nenhuma indicará a direção a seguir. Só sua intuição, sua natureza mais profunda poderá lhe dizer o que fazer, porque tudo que está acontecendo de certo e de errado está aí para conduzi-lo, não para desviá-lo do caminho que acontecerá de qualquer jeito. Faz parte do destino poder mudá-lo.

15/11/2013 - 9h51 

sábado, 9 de novembro de 2013

Lições de sábado 95


Ser outro. E por isso podemos ser. Pois sabemos quem somos, então há um caminho a escolher. Escolher não ser é uma opção como qualquer outra. Ser também é. Mas não ser parece que estamos desfazendo o que estava para ser feito e não fizemos. Ser outro. Ser completamente diferente do que esperam que sejamos. Não ser é melhor do que ser. E ser passa a ser o avesso daquilo que sempre fomos. Ou não éramos e por isso mudamos de direção. Ser novamente. Ser o que esquecemos ou que nos lembramos. Ser por escolha e opção. Ser porque acreditamos. Ou deixamos de acreditar. Mas o que fizemos traçou a rota do descaminho. E desandar é ser diferente de tudo, e ser igual, do outro lado de nós mesmos, que nos estranhamos e nos reconhecemos, às vezes.


9/11/2013 - 15h50


sábado, 2 de novembro de 2013

Lições de sábado 94

Por vezes pensamos que não conseguiremos fazer tudo que temos para fazer, e nos esforçamos um pouco mais para conseguir. É esse esforço final que faz a diferença depois da largada. Por mais que tenhamos um longo percurso ela frente, é na hora H que a experiência e o conhecimento contam, pois há perigos quando nos aproximamos da reta de chegada. Qualquer deslize faz com que se perca o pé e nessa hora não se pode errar. O que empreendemos por muito tempo, ou com tempo contado, tem um diferencial das coisas conseguidas ao acaso ou ao longo do caminho: elas mostram que sabemos o que estamos fazendo, mesmo que não tenhamos certeza do resultado, pois este só se consegue no fim, quando alguém pode dizer: "Foi fácil". Nunca é. Nunca sabemos se algo vai dar certo até conseguirmos. É como partida de futebol, ou um jogo de tênis: depende das probabilidades, e não só do talento. Conseguir fazer algo por esforço próprio não mostra apenas tenacidade, mostra que se sabe o que se quer.

2/11/2013 - 22h21


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Lições de sábado 93

A felicidade é um estado heterogêneo em que nos sentimos felizes sem saber porquê. Ora por estar no lugar certo, ora por ter feito algo certo, ora por motivo nenhum, apenas a sensação de estar tudo bem, sem ter feito nada para isso, ora por nos descobrirmos entre as pessoas certas que nos dão a sensação de estar fazendo o que devemos e sermos bem acolhidos entre elas, sem que precisemos fazer algo para isso. Ser quem somos é a única forma de nos sentirmos felizes, mesmo que não gostem de nós. Não podemos agradar a todos, senão às pessoas certas que gostam de nós como somos. Os outros vão ter de ficar sem nós. Paciência.

26/10/2103 - 18h33



sábado, 19 de outubro de 2013

Lições de sábado 92

Vinicius de Moraes completaria hoje 100 anos, mas quanto nos deu enquanto viveu é infinito. É um dos compositores mais famosos do mundo só porque compôs com Tom Jobim, "Garota de Ipanema". Ele foi a A a Z em tudo. Como diplomata, como cidadão brasileiro e do mundo, como marido, como pai, como amante de todas as mulheres que amou. Vinicius deixou um legado imenso de música e poesia. E quando se pensa que isso se esgotou, lá vem ele de novo, como poeta a inspirar a todos. Seu "infinito enquanto dure" do "Soneto de fidelidade" é um bordão que não sai da mente de ninguém, nem o seu "Soneto de separação", ou o "Soneto do amor total".

Vininha era botafoguense, e compôs um soneto para Garrincha, o Anjo das Pernas Tortas. O que ele fizesse, entrava para História, pelos amigos que teve, pelas mulheres que teve, pelas parceiros que teve, pelas canções que compôs. Tudo em Vinicius era permanente, mesmo o que fosse efêmero. Aprendemos com ele a amar quando era impossível, a ser quando não conseguíamos, a recomeçar quando acabava. "Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas vale menos do que eu, porque a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amor, pra quem chorou, pra quem sofreu. Ah, quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não". E por aí vai. Seus parceiros se eternizaram com ele, Baden, Tom, Chico e Toquinho. 

Quando morreu aos 66 anos, Vinicius deixava um rastro de amor, música e poesia. É a melhor forma de alguém viver - dar-se ao máximo de si mesmo, e receber do outro o máximo também. E o que viesse era lucro. Amar é uma profissão de fé: ou se ama ou não. Vinicius de Moraes era profissional nisso. Sabia amar como ninguém. Feliz centenário, Vinicius de Moraes.

19/10/2013 - 18h41

sábado, 12 de outubro de 2013

Lições de sábado 91

Quando somos crianças, não pensamos no futuro. O presente, o aqui e agora é tudo que interessa. Só queremos saber o que vamos ganhar, o que vamos fazer, o que vamos dizer neste minuto. Tudo é espontâneo e rápido, brincamos de qualquer coisa e logo mudamos de assunto, sem nos afetar com isso. Tudo nos impacta sobremaneira, somos muito impressionáveis. Uma história bem contada, uma música bonita, um lugar interessante, uma paisagem assombrosa. Montanhas azuis que desaparecem no horizonte até se perderem de vista. Tudo é belo ou assustador. O que nos acontece é instantâneo. E não nos perguntamos por quê, pois a velocidade das descobertas supera tudo, faz tudo se encaixar como num quebra-cabeça. Minhas memórias da infância remontam à mais tenra idade, em que eu mal sabia falar, mas entendia tudo. Uma ida ao banheiro sozinha num avião virou uma aventura. Voltei trazendo um pedacinho de papel higiênico que puxou o resto do rolo pelo corredor que eu queria mostrar para minha mãe, sentada na primeira cadeira, por estar grávida de meu irmão: "Olha o que eu achei, igualzinho em casa". "O que você fez?", perguntou minha mãe. Ao olhar para trás e ver que o rolo se desenrolara atrás de mim, eu disse: "Eu não fiz isso". Mas não adiantou. Fiquei de castigo, amarrada na cadeira no avião até o fim da viagem, de onde eu não podia mais sair. Eu tinha um ano e meio. Mas sabia o que era justo e injusto. Um senhor sentado atrás de minha mãe, quando me levantei para ir ao banheiro, me disse: "Você é muito linda". Eu dei de ombros, porque sempre me diziam isso. Quando voltei com o papel higiênico na mão, ele disse: "Você é muito feia!", e eu me lembro de ter pensado: "Esse homem não sabe o que diz, uma hora eu sou bonita, outra hora eu sou feia!" Quando somos crianças, nada parece fazer muito sentido e, ao mesmo tempo, faz todo sentido para nós. 

12/10/2013 - 19h34 - Dia da Criança.

Abaixo Pedro Rollemberg e Beatriz Motta, em 1996, com 6 e 5 anos, os dois filhos mais lindos do mundo. A foto, claro, é minha.


sábado, 28 de setembro de 2013

Lições de sábado 90



Para Amadeu Duarte

Eu sigo meus impulsos. E acredito nos acasos, nas coincidências, nos sinais que me aparecem. Tudo tem um motivo, mesmo que não saibamos interpretá-lo. Desde garota percebi que havia razões intrínsecas que eu desconhecia para cada coisa, mas que não precisava conhecê-las. Elas poderiam se mostrar ou não, mas o importante era saber que tudo acontecia por algum motivo, mesmo que eu não soubesse qual. O tempo corre quando estamos envolvidos em algo que nos interessa e se arrasta quando estamos entediados. Os trabalhos levam muito mais tempo para serem concluídos, por isso os prazos se esgotam, e flui quando estamos distraídos. Voltando a Shakespeare e aos mistérios entre o céu e a terra que não sonha a nossa filosofia, sinto-me no reino da Dinamarca, diante de um mar bravio. A surpresa tem o dom de nos conduzir ao abismo que vemos e nos dar a perfeita noção de onde estamos. A realidade nos toca por imagem e por imagem vemos não o que nos mostram, mas o que percebemos. E ao fazer escolhas, conscientes ou não, estamos sempre acertando o rumo que devemos seguir.

Rio, 28/09/2013 - 12h35 


domingo, 22 de setembro de 2013

Lições de sábado 89


Vou me dedicar às coisas simples para aprender a descomplicar. Ver amigos, convidá-los para um chá ou café à tarde, perder tempo com coisas que ninguém mais perde, tempo para conversar. O que fazemos pode ser pela última vez. Ou a única. Pode ser que nunca mais repitamos aquele gesto e nunca mais tenhamos outra chance de fazer a mesma coisa. Cada vez é única. E não sabemos como será amanhã. O que temos por mais de uma vez é um excesso que não compreendemos. Só compreendemos a perda, porque ela se foi. Atenção aos detalhes é uma lentidão necessária. A pressa torna tudo fútil e banal. Pode ser que tenhamos uma segunda chance. E pode ser que não. Toda vez é uma só.

22/09/2013 - 19h49 

 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Lições de sábado 88

I

Quando se termina um relacionamento, temos sempre a sensação de que deixamos de fazer algo que deveríamos ter feito, quando fizemos tudo para que desse certo, mesmo contra todas as probabilidades. Quando termina, termina por si mesmo, por todos os motivos aparentes ou não. Prefiro acreditar que tudo tem seu termo, mesmo o que parece eterno.

19/09/2012

II

A paixão é um relâmpago. Um átimo, num lustro. A vida toda prossegue como foi dito. Num instante, nos transformamos. O que deixou de ser, subitamente muda. Estamos infinitamente mais próximos e inteiros. Tudo flui como se a vida pertencesse apenas a nós mesmos. 

20/09/2013

III

A vida tem estranhos modos de nos fazer entender. Principalmente porque não nos avisa qual é a lição. Sempre nos pega desprevenidos, porque nunca estamos prontos para a prova. Temos de aprender fazendo. Viver se aprende vivendo.

21/09/2013

IV

Ainda fico impressionada com a capacidade de algumas pessoas quererem se reinventar com as mesmas mentiras e achando que vão colar. Haja falta de imaginção. Lembrando que o bandido sempre volta à cena do crime para praticá-lo novamente. Não tenha dúvida, ele acha que vai conseguir enganá-lo.

21/09/2013 

domingo, 15 de setembro de 2013

Lições de sábado 87


Posso não ser perfeita, mas procuro a perfeição. O amor me inspira a isso, em cada relacionamento aprendo a ser quem sou para o outro, seja o amigo, o namorado, o marido. Cada um me traz um pouco de mim, e um pouco de mim fica neles. Em cada um eu inspiro algo novo e eles inspiram em mim coisas novas. O amigo, o amor, a alma gêmea está ali para nos servir de espelho. O que eles nos mostram somos nós mesmos, nunca duvidemos disso. Não existe o "outro", só existem quem somos, numa nova versão, visto de fora, como peixes num aquário. Assim, quando alguém não corresponder às suas expectativas, não titubeie, nenhum dos dois está fazendo o que deve. Primeiro, não tenha expectativas. Segundo, ninguém está aqui para agradar ninguém. Se isso não acontecer naturalmente, não vai acontecer nunca, mesmo que se faça muita força. O que é, acontece sozinho. Sem esforço.

14/10/2013 -
14h25

Lições de sábado 86


A memória é a guardiã dos sentimentos e a matéria-prima do autoconhecimento. Tudo que fazemos, mesmo impensado, tem um pouco de nossa essência, e traz uma mensagem subconsciente de nossa nobreza. Entendê-la faz parte do aprendizado de si mesmo e nada nos escapa, mesmo que não saibamos. Sei quem sou inconsciente de mim, mas uma parte em mim sabe, e tenta me alertar. Aprendo por mim mesma.

7/09/2013 



quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Lições de sábado 85


Por mais que tentemos guardar o passado, somente vivemos o presente. Este está o tempo todo nos chamando, no jornal que chega na porta, no telefone que toca, nas notícias da TV. O presente tem o dom de estar sempre diante dos olhos, embora teimemos em não vê-lo e busquemos lembranças mais agradáveis do que estas. Mas o presente é a matéria-prima do passado. Com ele formam-se os momentos que lembraremos no futuro. Então se o passado nos é tão caro, o presente é mais valioso ainda, e o futuro predeterminado ou não, ainda não chegou, e dependerá apenas do que fazemos agora. Ao olharmos para aquilo que se foi, temos de lembrar que o agora é tudo que temos para construir o futuro, quando nos lembraremos dele com saudades de algo que passou.

Rio, 31 de agosto de 2013 



sábado, 24 de agosto de 2013

Lições de sábado 84

Um dia, acordamos sóbrios. Um dia, a vida se apresenta como nunca se apresentou antes, e temos a certeza de que desse dia nada passará. Não somos tão peremptórios assim. Desejamos que tudo seja definitivo, e nada é. Desejamos fazer coisas pela última vez, e elas se repetem. Desejamos que tudo dê certo, e dá errado. Desejamos tantas coisas, que passamos mais tempo a desejá-las do que a fazê-las. Só se faz quando se está pronto, e isso acontece sem que percebamos. Nunca premeditamos o acerto. Ou o fazemos, ou não. O erro é a única forma de acertar. Ou de procurar o certo. Arrependemo-nos de erros que gostaríamos de não ter cometido, mesmo sem querer. Não erramos de propósito. Isso já seria crime. 

24/08/2013 - 9h30


sábado, 17 de agosto de 2013

Lições de sábado 83


Quem foi que disse que não nascemos para sofrer? Acho que é impossível separar o sofrimento da vida. Se toda vida é feita de esforço, insistência e luta. Por menor que seja nosso empenho, sempre precisamos ter paciência, que é uma forma pacífica de lutar. E o que não se faz força para conseguir, se algum modo, mesmo em pensamento, é menos valorizado do que aquilo que nos entregamos para realizar. Podemos aprender a não sofrer, mas isso não elimina o sentimento. Podemos fazer algo sem esforço, mas não elimina a dedicação. Podemos conseguir algo sem querer, por merecimento, mas não deixamos de ter nos empenhado em nosso propósito de não desistir. Resistir às dificuldades, ou contorná-las é a única forma de sobrevivência, como o rio que escoa seguindo a lei da gravidade. Assim nos deixamos levar, ao sabor dos ventos, para onde temos de ir, se não soubermos o nosso destino. Mas ao escolher um, fazemos tudo que nos cabe para atingi-lo. E se não pudermos, outro destino nos será dado em troca. E este será aquele que teremos de viver.

17/08/2013 - 13h39

 

Frontispício da Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto. Foto de Vitor Vogel. Maio de 2013.


sábado, 10 de agosto de 2013

Lições de sábado 82


Quando se pensa que se encontrou uma resposta, descobrimos que temos outra questão, outra pergunta sendo feita. E aí há um desacerto para que procuremos novamente uma solução. Nunca estamos sossegados até descobrir que não há questões que nos tirem a tranquilidade. Para isso, estamos sempre dando a chance de nos trazerem problemas. Não há problema que não possa ser solucionado. Se não houver saída, não é um problema, é um sinal de que não há desenlace. É um não-caminho, um desvio de rota, uma mudança de curso. Um imprevisto que nos coloca em outro caminho. 


10/08/2013 - 7h57

sábado, 3 de agosto de 2013

Lições de sábado 81


Tudo que nos acontece é para nos preservar de algo pior, sem que saibamos. A falta de algo supre uma ausência que desconhecemos. Um atraso nos preserva de um engano, uma negativa, de um desastre. Sempre estamos a um passo do erro ou do acerto. O que nos mantém na rota são as invisíveis mãos e olhos que nos conduzem para onde devemos ir e veem o que não enxergamos. O que nos é dado nos basta, e nada nos desvia de onde devemos ir. Tudo é preciso e precioso. O que recebemos, a justa medida do bem.

3/08/2013 - 8h37


domingo, 28 de julho de 2013

Lições de sábado 80

Há algum tempo aprendi que para conhecer alguém é preciso tomar três xícaras de chá. Na primeira, somos uma visita. Na segunda, somos um convidado de honra. E na terceira, fazemos parte da família, por quem se faz qualquer coisa. Assim sucedem os relacionamentos, em que é preciso ter tempo e espaço para que as coisas aconteçam. A natureza não dá saltos. E ela é seletiva. Como a xícara de chá é tomada aos poucos, conhecer alguém leva tempo, o mesmo tempo entre semear e colher. As estações e as distâncias servem para nos ensinar paciência, assim como os astros, em sua eterna lentidão e mobilidade. Tudo está parado e se move. A poesia nos dá a sensação de permanência. E só ela para nos dar certezas. Como a folha de chá que nos aquece com sua infusão secular, uma tradição tão antiga quanto a própria existência.

29/07/2013 - 00h14


sexta-feira, 26 de julho de 2013

Lições de sábado 79

Quando penso em todas as coisas ditas e feitas, vejo quanto somos frágeis, quanto somos diminutos, e nada podemos fazer para conter o tempo ou as coisas, e que só nos resta amar o presente que vivemos, pois não haverá outra coisa para nós, não haverá ouro nem diamantes que nos deem a felicidade que almejamos.

26/07/2013 - 19h30

Cerâmica: As luas de Picasso.




quinta-feira, 25 de julho de 2013

Lições de sábado 78

Haverá dias que não teremos nenhuma resposta. Teremos de esperar que venha o que tanto aguardamos e o mistério se dissolva como cinzas na água. Os copos ficarão vazios esperando a liquidez dos momentos e que tudo se dilua definitivamente. Somente vivemos um dia de cada vez e um não antecede o outro, mesmo dito em sonhos. Os sonhos sussurram nossos segredos, mas não conhecemos sua língua. Símbolos não dizem o que são: esperam ser decifrados. Enquanto não sabemos, boiamos na aquosidade circunstancial de todas as horas.

25/07/2013 - 12h33 - Dia do Escritor

Foto de Vitor Vogel.

sábado, 6 de julho de 2013

Lições de sábado 77

O que compensa o cansaço é a satisfação de ter feito o que eu queria. Nunca serei suficientemente grata por essa chance tão grande, essa oportunidade tão especial de estar ali no dia em que Marília teria se casado. No final do dia 30, fomos Leila Oli, Vitor Vogel e eu visitar o Museu da Inconfidência, e ao sairmos, soaram os sinos da Ave-Maria, às 6 horas da tarde. Estava cumprida nossa missão. Encontramos professoras do Espírito Santo, que aproveitaram a leitura que fizemos de duas liras diante dos túmulos de Marília e de Dirceu, uma para cada um. Foi um momento mágico. Ali estávamos invocando a memória de um dia que não houve como fora planejado, mas planejei homenageá-los nesse dia, e consegui, mesmo pouco antes do museu fechar. Vi um exemplar da 1a. edição de "Marília de Dirceu", de 1792, avaliado em US$ 40,000 exposto junto com todos os outros objetos relativos à Inconfidência. Libertae quae sera tamen. Liberdade ainda que tardia. "Como tardou a liberdade", diz Marília em suas liras. É preciso agora contar essa bela história de amor, arrancada de seu âmago por vingança. A liberdade veio pelas mãos de D. Pedro, em 1822, que Marília viu acontecer, mas muitos dos inconfidentes, não. Tomás Antônio Gonzaga não viu. A vida seguiu e hoje podemos contá-la, para que não se esqueçam dela.

2/06/2013  

 

Lições de sábado 76

Somos os novos seres do amanhã.
Hoje vencidos pelo ontem que já passou.
Renovamos os passos, pois eles sempre se renovam.
Somos novos a cada dia, mesmo que não vejamos.
Não vemos o que passa, só o que passou.
Não vemos o presente, nem o instante, que não dura.
Temos somente a lembrança do que houve e o desejo
pelo que virá.
O futuro cabe todo no pensamento.
Vivamos o agora para que ele dure para sempre.


19/06/2013