segunda-feira, 27 de maio de 2013

Lições de sábado 68

Há nomes que nos seguem a vida inteira. Nomes de pais, de irmãos, de amigos, parentes, vizinhos, até do padeiro ou taxista. Há nomes que ficam e outros que vão. Mas há alguns nomes que trazem toda uma explicação. Não é só uma coincidência, é uma reverência, é um aviso, é uma anunciação. Assim é o nome Carlos. Nome de meu pai, nome de meu irmão. Nome de Drummond. Nome de Vereza. De Carlos Magno. Nome do rei de França que Joana d'Arc coroou, Carlos VII. E ainda o nome do rei inglês, neto de Mary Stuart, que perdeu a cabeça, mas a manteve erguida até o fim. Um nome com tal magnitude, nome de príncipes, de reis, de poetas e atores, e ainda de pessoas tão próximas, só quer dizer que é um nome sagrado - consagrado a mim, que me foi dado antes, como um nome próprio, um nome inteiro, um heterônimo, como outro nome em que eu me reconheça. E ao ver a repetição desse nome em pessoas tão importantes para mim, só entendo que não é um nome comum - como se fosse o primeiro, aquele que veio antes - e se perpetua. 

Para Carlos Gurgel, poeta amado.

27/05/2013 - 22h30 


domingo, 26 de maio de 2013

Lições de sábado 67

Acho que muito do que fiz, aprendi lendo contos de fadas. A Cinderela perdia o sapatinho, que as irmãs malvadas queriam usar, a Branca de Neve adormecia engasgada com a maçã e o príncipe Felipe lutava contra a bruxa para salvar a Bela Adormecida, e todas as histórias terminavam com um suspiro de alívio depois de serem superados todos os perigos.

Os perigos do dia a dia nem se comparam a essas lendas e acrescentamos muitas outras para nos ajudar a entender como ultrapassar tantos obstáculos - o tempo todo nos deparamos com dragões alados, pessoas que viram monstros, mentiras de todo tipo para tentar nos enganar e, ao final, vencemos incólumes, depois de cada batalha.

Shakespeare sabia disso quando criou suas peças, e todos os dramaturgos tinham influência dos contos que ouviram na infância, além da mitologia, do teatro grego e todos os que os precederam criando histórias para nos tirar de apertos por analogia.

Aprendemos a lidar com problemas desde crianças, e nunca acaba o labirinto de Minos, mesmo com o novelo de Ariadne nas mãos. Dia a dia despertamos para um novo embate. E o que nos sustenta é a "lufada de esperança" para nos levar adiante, cruzar os mares, apesar dos monstros marinhos, ou seja, o que for que se interpuser em nosso caminho.

Seja "A princesa e a ervilha", "O gato de botas" ou "João Pé de Feijão", essas histórias alimentam a criança que somos para encontrar as saídas criativas a cada percalço. 

Assim será sempre - diante de qualquer espera, atraso, demanda, dúvida ou questão que surja à frente que iremos espantar com as lufadas de esperança que soprarão as velas do nosso barquinho.

25/05/2013 - 23h50

domingo, 19 de maio de 2013

Lições de sábado 66


Não existe dimensão para a certeza. Sabemos ou não sabemos o que é. E ao trafegarmos as nossas avenidas, descobrimos aos poucos onde estamos indo. Podemos traçar destinos, mas o caminho é sempre descoberto pelo meio. Não há modo de se adivinhar o futuro, mesmo que se saiba o que vai acontecer, ou determinemos nossos objetivos. "Como" é feito é o segredo e esse "como" depende de todos os ingredientes que acrescentamos à receita. Nunca podemos prever o que vai acontecer, mas só "como" o fazemos enquanto estamos indo (o leme em nossa mão) depende de nós. Escolher como agir é o que determina o presente e o futuro. Quando não souber o que fazer, não faça nada. É o melhor modo de não errar. Aja quando tiver certeza, ou tiver feito uma escolha. Mesmo que a escolha seja não fazer.

19/05/2013 - 13h13


sábado, 11 de maio de 2013

Lições de sábado 65

A língua portuguesa é a mais entranhada de todas. Para quem fala uma língua pouco falada no mundo, tem que ter um sentido espiritual nela. Ela sobrevive porque a amamos. E ela diz o que nenhuma outra pode dizer do mesmo modo.

11/05/2013 - 16h34

 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Lições de sábado 64

Edouard Manet esteve no Rio de Janeiro entre 1848-1849 e a José Olympio Editora publicou a 2a. edição das Cartas da Juventude de Manet descrevendo sua estada com ilustrações que fez da cidade. Eu estava atrás desse livro há 10 anos, desde que o vi na Livraria Susanne Bach, como livro raro. Reencontrei-o na Livraria da Travessa há duas semanas, e matei minhas saudades desse pintor que não é tão conhecido como seu contemporâneo Monet, mas que o influenciou. O livro é uma preciosidade. Fala de um Rio de meados do século XIX, com o imperador recém-coroado em 1841, com 23 anos, a mesma idade do pai quando declarou a Independência. Essas sincronicidades formam o meu espírito e me dão a certeza de que há uma ordem nas coisas, mesmo que eu não a veja. 

5/05/2012 - 12h  

 

Lições de sábado 63

O MISTÉRIO DE SHAKESPEARE

400 anos depois de sua morte pouco importa se era um ou outro, pois o que importa é a obra. Shakespeare de Stratford-upon-Avon existiu, foi um filho dileto de sua mãe, casou-se cedo, teve filhos, foi para Londres, fez carreira, comprou um teatro e aposentou-se, voltando à cidade natal, onde morreu depois de casar a filha, Susanne. Se todas as coincidências fizeram com que De Vere entregasse seus textos para serem assinados, dirigidos e interpretados pelo Bardo, foi a conveniência para ambos, já que o duque não podia se misturar com a ralé do teatro por ordem da rainha, mas podia continuar escrevendo. Se foi verdade ou não, só serve aos invejosos saber que Shakespeare era outro. Eu nunca fui fã de Freud. Agora muito menos. Mas continuo fã de Shakespeare e de sua obra. E o que importa é que ele a assinou e tornou-a pública, o maior mérito de uma obra, que serve a tanta gente até hoje. God save Shakespeare.

6/05/2013 - 13h

Lições de sábado 62

As coincidências se acumulam. Todas as coisas vão se acumulando de símbolos. Cercam-nos e nos dizem onde estamos indo. Um alerta para dias sem nuvens. Quando o vento não sopra a direção e é preciso navegar os ares. Os sinais são a única forma de saber que estamos indo na direção certa. A vida seria um deserto se não soubéssemos para onde ir.

6/06/2013 - 15h 

Lições de sábado 61

PARA LER COM O CAFÉ

Fui habituada a pensar rápido e a pensar por mim mesma. Habituei-me a saber exatamente o que quero, para não ter dúvidas. Mesmo que me desafiem, eu me mantenho lá. Faço tudo ao contrário do que esperam que eu faça, mas faço do meu jeito. Insisto onde não há esperança, até que ela surja. Acredito no que sinto acima de qualquer suspeita. E sigo minha intuição quando ela me fala. O primeiro impulso é o mais correto. E ele vem junto com a ação. Não me arrependo quando é tarde. Mas se puder, evito erros. E quando erro, peço desculpas. Ninguém está aqui para acertar tudo, apenas para continuar tentando.

7/05/2013 - 14h41

 

domingo, 5 de maio de 2013

Lições de sábado 60

As sincronicidades formam o meu espírito e me dão a certeza de que há uma ordem nas coisas, mesmo que eu não a veja. A cada dia, eu descubro uma coincidência, um fato novo que não tinha visto, um nome, um número, uma data. Abro os olhos depois de adormecer no carro voltando de Itaipava e a primeira placa que vejo tem o ano do nascimento de Marília, o que significa: sua próxima viagem será para Ouro Preto, enquanto o carro se afasta na chuva. Eu chamo essas coincidências de "olhinhos de gato", aqueles refletores que ficam ao longo da estrada, e que indicam que a estrada é boa. Mesmo que eu nunca tenha trafegado por ela, isso mostra que estou segura. Quando somem as coincidências quer dizer que peguei um atalho e estou indo na direção errada. Os olhinhos de gato me garantem que vou para onde tenho de ir, por isso prezo tanto as datas, nomes e números que me aparecem ao longo do caminho, pois eles me garantem que fiz a escolha certa.

5/05/2013 - 14h37