quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Lições de sábado 332

A vida é um trânsito astrológico. Por mais que acreditemos em questões permanentes, elas sempre mudam, para melhor ou pior, buscando um equilíbrio. Um erro abre a possibilidade de acerto, uma crise traz uma conciliação, uma doença pode trazer uma iluminação. Mudanças são sempre difíceis, dolorosas e longas, mas provocam resultados positivos. Ao consultar os trânsitos astrológicos pelos quais passamos, percebo que tudo vai e volta ao mesmo ponto, criando novas chances, renascimentos, reconstruções, ebulições, pacificações, alternâncias ou estabilidade. Nunca sabemos (a não ser que consultemos o mapa astral diariamente) quando algo pode acontecer, e mesmo que façamos previsões, não saberemos exatamente o que acontecerá até que aconteça. Saberemos "o quê", mas não "como". Saberemos "quando", mas não "quem". Quando precisarmos de uma previsão, olhemos as estrelas, enquanto a Terra gira e os cometas  cortam o universo, imantando tudo com sua força, a que chamamos destino.

27/12/2017 - 13h32

   

domingo, 24 de dezembro de 2017

Lições de sábado 331

Natal para Vinicius era fundamental. Deve haver algo de beleza em tudo isso, senão o poeta não iria se deter para escrever sobre o Natal. Para isso fomos feitos. Para amar e chorar pelos que partiram e nos alegrarmos com os que chegam. A vida é infinita e infinitamente se desdobra para trazer mais sentido à própria vida. Vivemos o Natal para celebrar todos os acontecimentos: hoje é o dia do presente, hoje é o dia da beleza, hoje é o dia do milagre (olhar mais uma vez para ter certeza que se viu). Esperamos imensamente por dias como este, até que ele chega. Ele passará, mas, antes que passe, viveremos, na ponta dos pés, a alegria de estarmos num Natal, o Dia do Senhor, para que haja mais abraços entre irmãos.

24/12/2017 - 14h22


sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Lições de sábado 330

Fim de ano tem sempre o mesmo gosto: ano que vem será melhor. O que passou que não foi bom tendemos a rejeitar com um levantar de ombros e um desdém que não tem fim. Queremos esquecer o que não gostamos e nos fixamos apenas nos “bons momentos”. O que não foi bom também ajudou a sabermos o que é bom. Não adianta só querer a polpa do fruto. Tem que tirar a casca. Vivi sempre como se carregasse um fardo imenso, nunca vivi leve e despreocupada – talvez só na infância e adolescência quanto nada era assim tão sério, senão as seriíssimas questões de criança. Um dia escrevi num poema que só publiquei no Jornal Análise, do DCE Mackenzie: “Carrego um fardo, como quem voa”, que minha mãe achou o verso divino e repetia como um mantra. Assim deveríamos viver, como se voássemos, nada a nos preocupar a fundo, porque, segundo ela, “tudo já estava resolvido, pronto e terminado”. Hoje vejo que carregar fardos é um aspecto astrológico, não nos livramos disso tão facilmente. Há que se pagar um preço para ser “livre”. “O preço da liberdade é a eterna vigilância”, disse Abraham Lincoln. Então, nunca seremos tão livres assim, se tivermos de tomar conta dos inimigos, declarados ou não. Fim de ano tem gosto de quero tudo novo, quero tudo melhor, quero estar feliz sem ter de me preocupar. E principalmente sem ter contas para pagar. Se a vida termina de repente, não podemos nos preocupar só com pagar as contas. Temos de viver, mesmo sem as contas pagas. Porque isso, segundo consta, se resolverá por si só. 


22/12/2017 – 16h33




terça-feira, 28 de novembro de 2017

Lições de sábado 329

Cerquemo-nos do que nos é mais caro, juntemos os livros, as xícaras, as cartas. Peguemos a mobília da casa, as cortinas das janelas, os tapetes sobre os assoalhos, e penduremos os quadros que mais amamos, tudo isso com abajures e castiçais, uma luz tênue e frágil, para abrigar a alma, esta, a única que vive, sob todas as circunstâncias.

20/11/2012 - 9h48


sábado, 25 de novembro de 2017

Lições de sábado 328

Brasil é uma sucessão de erros que queremos que deem certo. Começa com um descobrimento de coisa sabida, passa pelas mãos de degredados e piratas, vira jazigo de ouro e pedras preciosas, é depenado, depauperado e explorado, torna-se receptáculo do maior contingente de escravos da África, é o último a libertá-los, tem rei, imperador e presidente, um sem número de constituições, petróleo e todas as riquezas minerais, fauna e flora, em que se plantando tudo dá, mas nunca teve a decência de seus governantes, salvo honrosas exceções. A história do Brasil é um erro tão grande, que, depois de ter eleito o partido dos trabalhadores e perdido o que lhe restava de honradez, está às cegas à procura de uma porta que lhe mostre a saída desse circo de horrores. Pobre, envergonhado, enxovalhado e ridículo. Pois só quem é ridículo aceita tanta humilhação. É triste, mas é nossa história. É lindo por ser verdadeiro. A verdade soa bela, mesmo quando é terrível. Indignei-me diante dos fatos de ontem. Mais ainda. É preciso saber onde estamos indo. Não somos um barco à deriva como queriam que imaginássemos a caravela de Cabral. Desde o início, contam nossa história como se fosse um acidente e não uma determinação. O Tratado de Tordesilhas foi assinado antes da descoberta para assegurar o território. Isabel de Castela e Fernando de Aragão foram ludibriados pelo primo D. João II, o rei de Portugal. Depois, em 1500, era o genro de Isabel, D. Manuel I, o Venturoso, que mandava Cabral para o Brasil. E nem um país nem outro soube o que fazer das terras descobertas. Nem Colombo aproveitou a sua astúcia como navegador genovês, nem Cabral deitou-se nos louros de sua descoberta. E Caminha morreu nas Índias - triste fim para quem anunciou a boa nova ao rei português. Como será contada nossa história daqui a 500 anos?

25/11/2016 - 17h55

Mapa-mundi de Vasco da Gama

sábado, 18 de novembro de 2017

Lições de sábado 327

Saber-se íntegro, sério e nobre não é outra coisa senão navegar contra a corrente, rio acima, de onde descem as águas que, em sua fúria, nada temem. E, como o navegador insistente, não desista, não fuja da escalada, pois o rio bravio não ouve lamentos e gemidos. A vida é árida e só colhe os frutos quem não abre mão dos sonhos.
17/11/2017 - 20h51


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Lições de sábado 326

Os motivos são meus, mas as razões são suas.

A constância da chuva lembra-nos aquilo que acontece o tempo todo e muitas vezes não vemos. Chove para que prestemos atenção. O infinito também existe, embora só vejamos coisas finitas. Somos levados muitas vezes por circunstâncias que não prevemos e nossa sorte não ajuda quando não é para dar certo. O que tem de dar errado dará. Essa é a verdadeira Lei de Murphy.


13/11/2017 - 8h55


sábado, 11 de novembro de 2017

Lições de sábado 325

Os segredos de Laura

Nunca houve uma mulher como Gilda, nem como Rebecca, a mulher inesquecível. Há mais mistérios em torno de mulheres do que de homens, reparem. Por isso os segredos são de Laura, que já foi novela, série de TV e tema para este filme noir charmosíssimo de Otto Preminger, de 1944, chamado apenas "Laura", com Gene Tierney e Dana Andrews e participação de Vincent Price. Ele não era o vilão da história, papel reservado a Clifton Webb, que, por não ser galã, fazia o personagem detestável de escritor e assassino. O mistério começa em torno de um quadro, no apartamento onde a mocinha morava e acaba enveredando por caminhos não imaginados. Pouco importa isso agora, somente o fato de que as mulheres arrebanham, em vida ou na ficção, mais paixão que os homens. É só citar meia dúzia delas e a mente começa a divagar. Cite cinco homens, cuja história, real ou ficcional, seja um mistério ou fascinante. Eu cito reais: Oscar Wilde, Lawrence da Arábia, John Lennon, Alexandre, o Grande, Marco Polo. Mas não é a mesma coisa que citar Cleópatra, Catarina, a Grande, Maria da Escócia, Elizabeth I, Joana D'Arc. A vida delas parecerá muito mais interessante. Assim é Laura, do filme de Preminger, que desperta a paixão do investigador vivido por Andrews. Se formos partir para a ficção, os homens tomam um banho: Capitu, Catherine (de O Morro dos Ventos Uivantes), Beatriz (de A Divina Comédia), Madame Bovary, Anna Karenina. Claro que tem muito mais. Mas mulheres dão de dez a zero. A pergunta final é simples: quantas mulheres são necessárias para se fazer um grande homem? Sua vida pode ser grandiosa, mas o mistério ficará por conta dessas mulheres anônimas que cuidaram, cozinharam, tiveram filhos, esperaram e ouviram os grandes planos desses grandes homens. "Vou chegar à China navegando para o Oeste", disse Colombo à sua mulher espanhola. "Está bem, está bem... Agora, durma", teria respondido ela, cansada de ouvir a mesma história todos os dias. E ele foi e fez. Minha avó Therezinha costumava dizer: "Quando vemos um ministro muito educado, não sabemos o trabalho que ele deve ter dado para a mãe dele". Mulheres são misteriosas e inesquecíveis. Assim como Laura, Gilda e Rebecca, incompreensíveis por trás de sua aura de sedução. Afinal, são mulheres. 

11/11/2017 - 14h31


terça-feira, 7 de novembro de 2017

Lições de sábado 324

Em 1976, tive uma colega no terceiro ano do colégio, que se dizia neta de Cecília Meireles. Ela provava isso mostrando a foto das netas, Fernanda Maria e Maria de Fátima, publicada nas obras completas da Aguilar. "Eu tenho todos os livros de vovó", dizia ela. A professora, distraída, respondeu: "Ah, poderíamos fazer uma entrevista com ela". "Não é possível, professora... ela já morreu". E eu passei os 20 anos seguintes acreditando que tinha estudado com Fafá, neta de Cecília Meireles, irmã de Fernanda C Dias. Mas, em 2001, centenário de nascimento de Cecília, conheci Fernanda, que me disse: "Nós nunca estudamos em São Paulo". Eu caí do céu. Como era possível que aquela menina, se aproveitando de ter o mesmo nome, apelido e idade se passava por neta de quem não era? (Há outros casos assim, mas conto depois.) Quando finalmente conheci a verdadeira Fafá, era como se reencontrasse alguém que nunca tinha visto, mas que acreditava ter conhecido. Uma intimidade através da pessoa errada. O verdadeiro erro de pessoa. Achar que é uma pessoa que ela não é. Aliás, isso não é erro de pessoa, é falsidade ideológica. 

7/11/2017 - 13h23



sábado, 4 de novembro de 2017

Lições de sábado 323

Temos tempo ocioso para fazer nada. Aproveitemos. Temos tempo de contemplar as estrelas e enumerá-las. Temos tempo para a lentidão e para o vagar dos olhos. Temos tempo para rezar e meditar. Temos tempo principalmente para os amigos. Temos tempo para pensar e dizer palavras a quem nos ouve. Tempo para a amizade e a rega. Tempo para passar. Tempo para esperar. Tempo para o que não for urgente. Tempo para novas construções. Para reiniciar o que foi desfeito. Para refazer o que foi perdido. Para procurar, para buscar, para entreter. Tempo para todas as coisas que não têm fim e cujo o eterno recomeço não é uma nódoa. Temos tempo para o acaso. Tempo de dizer sim, tempo de acertar. Tempo para as coisas inúteis e as úteis também. Tempo de cozinhar, de beber, de comer. Tempo de ninar crianças, educá-las, ler para elas. Tempo de ouvir. Tempo de ser absolutamente o que se é. Sem máscaras. Tempo de viajar. De recolher-se, de dar as mãos. Tempo para o que for imprescindível e obsoleto também. Porque não existe uma coisa que seja somente vã. Para alguém, ela tem sentido. Tempo de ler poemas. E de escrevê-los. Temos tempo. Vamos devagar para que o tempo demore um pouco mais e possamos nos lembrar. Este é o tempo de ser como nunca se foi antes.

4/11/2017 - 9h58

  

sábado, 28 de outubro de 2017

Lições de sábado 322

"As melhores coisas acontecem aos sábados", me disse Tonton, um amigo paraibano em Recife. Assim o avô dele se referia ao dia em que a família se reunia para o almoço, depois ele se deitava para a sesta e era acordado com os beijos da avó, Aurélia, escolhida aos 15 anos, quando a viu na janela de casa. Desmanchou o noivado e disse: "Vou me casar com ela". Ele se chamava Aureliano, mas, por um desses erros que ninguém explica, todos os seus documentos traziam Aurélio Ferreira e Aurélio ficou. Aurélia também era Ferreira e ficaram casados por 50 anos. A família que nasceu desse par não poderia ser menos divertida. As bisnetas, Ana Clara e Maria Antônia, de 7 e 4 anos, levam o pai à loucura com suas brincadeiras e observações. Clara tem os olhos do pai e ao se olhar um dia no espelho, disse, espantada: "Pai, os seus olhos estão em mim!" As melhores coisas acontecem aos sábados, dizia seu Aurélio Ferreira. Eu também acho. Aos sábados, a vida parece ter mais sentido, como Vinicius tão bem explicou: "Porque hoje é sábado". 

28/10/2017 - 10h02


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Lições de sábado 321

Como noivos prometidos que aguardam o encontro sem nunca antes terem se visto em longínquos países do Oriente, assim aguardamos a chegada, o desembarque, a vinda, sem saber o gosto, ou o toque, ou a visão do amado, envolto em espera e mistério, atenuado pelas palavras ditas, mas que em nada diminui a expectativa das antigas promessas e que tudo se acomode e se dispa das estranhezas que há nesses encontros, em que o rosto irrevelado se mostre tão meigo quanta a fala de sua voz sussurrada.

28/03/2013





Lições de sábado 320

Devo aos meus professores tudo que aprendi e me deu vontade de estudar. Aprendi com eles a pesquisar e me tornei pesquisadora. Aprendi com eles outras línguas, e me tornei tradutora. Aprendi com eles o Direito, e descobri que todos podem ser defendidos, o lado mais difícil de entender num processo. O advogado não julga, senão seria juiz. Aprendi, principalmente, com minha mãe, a me interessar por todos os assuntos, abrindo um leque de possibilidades para a sobrevivência. É mais fácil perguntar o que eu não fiz. Fiz teatro, estudei violão, fiz balé, publiquei livros, traduzi, aprendi a cozinhar, a revisar, a editar, a fazer amigos, a defender minha opinião, a ter opinião e a fazer escolhas, mesmo que me arrependa delas depois. Aprendemos por tentativa e erro. Aprendemos com o tempo. Aprendemos duramente a discernir. E a fazer escolhas errando menos.
22/10/2017 - 10h08


Lições de sábado 319

Quando eu penso que já li todas as notícias horríveis no jornal, vem sempre uma mais horrível pra provar que eu estou errada. Essa do menino de Goiânia se junta à dos refugiados de Myanmar e ao ataque terrorista na Somália. Cabral condenado a 72 anos, Nuzman que sai da prisão em 24 horas, fora o corporativismo político e judiciário que liberou Aécio, mas não da vergonha nacional. Na Rocinha, o fogo come solto e Crivella despacha na Macumba. Bala perdida mata idoso em bar no Alemão. Minha mãe fez a urbanização da Rocinha na década de 60/70. Fez Vila Aliança, Cidade de Deus e Vila Kennedy. E ainda o Parque (não Aterro) do Flamengo com a Lotta Macedo Soares. A luz vai ficar mais cara. Dólar fecha a R$ 3,19. Alta de 0,44%. A Catalunha quer pegar o touro à unha. Isso é conversa pra boi dormir. E uma chuva de meteoros é atração no final de semana até o começo de novembro. E ainda tem mais. Mas nenhuma nota sobre Somália ou Myanmar. Faltou jornal?
21/10/2017 - 10h36


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Lições de sábado 318

"Filhos, melhor não tê-los". Melhor. Acabou o poema. Porque se os tivermos vamos descobrir quão ingratos, desagradáveis e malcriados serão. Filhos, melhor não tê-los, porque é muito difícil ser mãe e não esquecer de si mesma. Nessa hora, acusam de "mãe desnaturada". Não, filhos desnaturados. Porque a mãe tem direito de ser quem ela é, como os filhos também têm direito de ser quem são. E para isso é preciso estabelecer bem esse contrato de relacionamento. Limites. Respeito. Direitos iguais. Filho pode? Mãe também pode. Uma mulher de 39 anos nunca deve ter um filho a não ser que queira. Não é obrigação de ninguém. Aos 15 anos, eu já me preocupava com isso, quando escrevi o "Tratado das supermães ou Segredo de vida em plenitude", em que eu recomendava que as mães deixassem seus filhos partirem para o mundo, sem tentar prendê-los. Hoje, há filhos de 30, 40 anos que não saem de casa. São adolescentes retardatários. Não têm vida própria, não têm sua família, etc. Mas não importa. A mãe será sempre mulher, mesmo que tenha muitos filhos. E, se não tiver, terá a si mesma, a melhor filha do mundo.
5/10/2017 - 18h

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Lições de sábado 317

O tempo que se gasta para esperar "o tempo certo" é um desperdício. Cobrar atraso deveria ser crime.

27/09/2017 - 17h30


Lições de sábado 316

A vida segue seu curso. Nós temos de acompanhá-la, temos de ir atrás. Se o vento mudar, mudamos com o vento.

28/09/2017 - 13h08


Lições de sábado 315

Meu pedido a São Gabriel: me dê o suficiente para que eu possa partilhar, que eu não deva mais do que possa pagar e tenha tempo para mim e meus amigos, os únicos que realmente importam. A São Miguel: me dê a força para empreender o caminho, a diligência para acertar a estrada e a paciência para chegar até o final. A São Rafael: me dê saúde para superar os obstáculos, tenacidade para enfrentar as feras e a certeza de que, não importa o que eu faça, estará bem feito por fazê-lo com o coração.

29/09/2013 - 13h25


Lições de sábado 314

Viverei a liberdade ao pé de mim, pois meus passos serão somente meus. Não poderei ceder minha fé, nem ouvirão o que somente eu ouço. Mas se o que eu disser mudar a direção de um olhar, isso fará diferença. Entendo aquilo para o qual estou pronta, mesmo que não tenha tempo para fazer tudo. Os feitos terão de esperar sua hora. Nem tudo cabe num mesmo momento. Os anos que esperei para chegar aqui ainda pulsam na memória. E o que fiz não faço mais. Faço outras coisas que me levam adiante, para onde tenho de ir, sem saber onde irei.
29/09/2016 - 00h54


Lições de sábado 313

Tente fazer tudo ao menos uma vez. Nem sempre se acerta, mas faz parte do aprendizado. O treino é feito de sucessivos erros, até atingir a perfeição. O que não pode é não tentar. Crie hábitos que mudem o dia a dia. Faça algo pela primeira vez. Insista tantas vezes quantas forem necessárias, até descobrir que estava certo. Não mude de curso, mesmo sob a tormenta. E saiba quais conselhos ouvir e não ouvir. Siga sua intuição. E se não souber o que fazer, não faça coisa alguma. Um insight lhe dirá o que deve ser feito. A vida muda de repente. E de uma hora para outra tudo pode ser outro. Nunca sabemos quando. Por isso temos de estar preparados para o que vier.
29/09/2016 - 00h41


sábado, 23 de setembro de 2017

Lições de sábado 312

Mais vale um amor antigo do que ausente, um distante do que inexistente, um fortuito do que vazio, um real do que falso. Um amor sempre vale a pena por nos dar a dimensao de nós mesmos no redemoinho de nossas vidas interligadas.

24/09/2013



Lições de sábado 311

Toda vez que algo tiver de ser feito, espere o vento mudar. Ou espere que haja vento. Nem sempre podemos sair de casa sem um guarda-chuva, ou um lenço, ou casaco. Devemos esperar mudanças ao longo do dia. Previsões são dadas a alterações. O que acontece de fato só pode ser contado em retrospecto. Ninguém adivinha o final de uma história. Por isso romances fazem tanto sucesso. Não é o sentimento, mas a narrativa que prende. Embora de "Dom Casmurro" eu só tivesse guardado a emoção que tive e não os fatos em si quando o li aos 15 anos. Esperar a hora de agir é crucial. Ou saber que deve agir imediatamente. Só a intuição atua nessa hora. Ou saber que não deve desistir. Nem que leve muito tempo. Mantenha a palavra, não importa o quê. Só mude sob circunstâncias imperativas. Quando não houver outro caminho. Desistir também exige coragem. Viver é um jogo de xadrez. Saber o próximo passo é vital para a sobrevivência. Mas nem sempre se pode prever. Se isso acontecer, viva apenas o hoje. Amanhã, pode ter mudado o tempo e precisará alterar os planos. Viva um dia de cada vez. Mesmo que prepare o que vai fazer depois, esteja pronto para ser surpreendido. "Só acontece o que não se espera", já disse Breton. 

23/09/2017 - 13h44  - Dia do alinhamento de Vênus, Marte, Mercúrio, Sol, Lua, Júpiter e Regulus - Início da Primavera. 

Primavera de Sandro Boticelli
1482
Têmpera sobre madeira
203 cm × 314 cm
Galeria Uffizi, Florença

Lições de sábado 310

A poesia é a primeira forma de expressão humana. Você pode não ter escrito um romance, um conto ou uma crônica, mas todo mundo já escreveu ou já pensou ou tentou ou quis escrever um poema para alguém, portanto, todos são poetas. E a poesia se expande para todas as áreas. Não dá para avaliar pela TV, nem pelos punk rocks da vida, que também são formas de expressão, embora não sejam as nossas. Um dia, um poema dirá mais do que tudo isso. E, de toda a pilha de instrumentos acumulados, um poema salvará a vida de alguém, como já salvou inúmeras vezes. Não importa que não saibam hoje quanto vale. Um dia, saberão, quem tiver de saber, porque os que não souberem não precisarão de poemas. Se você solta um poema, ele volta com um agradecimento. Alguém que precisava lê-lo, leu. E isso é a única coisa que importa. A poesia fica. Não nós. Somente a poesia. O primeiro texto escrito foi um poema. Por uma mulher, uma sacerdotisa à deusa que ela venerava. Isso já basta para saber que o que fizermos vai ficar para alguém um dia encontrá-lo.

CANÇÃO A INANNA
Enheduanna (ca. 2300 a.C.)

Na frente de
batalha,
vences todos os
inimigos -
Ó dama alada,
como um pássaro
aras o terreno.
Como uma
tempestade que se aproxima
atacas, como um
trovão
trovejas,
lanças teus
raios,
sopras no vento
alvoroçado.
Teus pés avançam.
Carregando tua
harpa cheia de suspiros,
exalando uma
melodia de luto.

Enheduanna (ca.2300 a.C.) é a primeira autora a ser identificada na literatura. Filha do rei sumério Sargon (cujos domínios ficavam no que hoje corresponde ao sul do Iraque), era a suma sacerdotisa do deus e da deusa da Lua, Nanna e Inanna. Alguns dos hinos de Enheduanna sobreviveram em tábuas em escrita cuneiforme, e seu retrato foi encontrado num disco de calcário durante as escavações na cidade de Ur.


22/09/2017 - 12h28


terça-feira, 19 de setembro de 2017

Lições de sábado 309

Diga-me por onde andas, que te direi quem és. Há lugares onde não faz sombra, há sempre luz por onde se caminha. As portas estão sempre abertas, e podemos ir a todos os lugares. Uma casa que recebe todos os que batem à porta e nela encontram um refúgio, onde há livros de todos os tipos, para todos os leitores. Assim é a visão do paraíso para Borges, uma biblioteca. E para muitos de nós, uma pequena ou uma grande livraria, onde os livros nos chamam para entrar.

19/09/2015


Lições de sábado 308

A perfeição é um sonho da criação. Quando se sonha, está se criando. Quando se desperta, o sonho se vai. Viver e criar é sonhar acordado. "Isto é um sonho?" Às vezes, a vida é entreato para o sonho. E pensar que se está sonhando nada mais é do que viver do outro lado da própria vida. A vida ao revés, como ela poderia ser, e não é. E ela é o sonho que vivemos acordados.

19/09/2011


Lições de sábado 307

Cheguei à conclusão que encontramos todas as pessoas que precisamos conhecer bem cedo na vida e só vamos reencontrá-las mais tarde quando realmente precisarmos delas. 

19/09/2011


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Lições de sábado 306


Não há um completo silêncio. Há apenas sons que se misturam aos pensamentos, que também não cessam. Não há palavras, mas sons, como buzinas ao longe, sussurros de vento, barulho de chuva, tinir de xícaras. O silêncio total, som algum, como uma surdez temporária, não há. Mesmo o mais denso silêncio das florestas ainda é cheio de farfalhar de folhas e pios de coruja. E ouvimos o som da Terra se movendo, das estrelas trafegando no céu, e o mar que bate nas praias. Há um silêncio entremeado de sustos, como as pausas na música, audíveis em entreatos de emoção, que se sucedem como voo dos pássaros e erupção dos vulcões.
14/09/2011


quinta-feira, 6 de julho de 2017

Lições de sábado 305

A morte não dá trégua, ela é trágica, é inesperada e imensa. A vida vista desse ponto de vista torna-se frágil demais para suportar a perda. Porém, só há uma coisa que a morte dá: a eternidade. Eternidade que não temos em vida. Eternidade na mente de todas as pessoas que nos conheceram e amaram. Assim, nossos pais depois que morrem tornam-se eternos, pois para nós continua vivo em nossas mentes, e no nosso coração. Todos os que partem deixam esse gosto de saudade, essa melacolia por não podermos estar mais próximos. Mas essa mesma distância inesperadamente se inverte, colocando dentro de nós alguém que nunca partiu. 

29/04/2011 - Para uma amiga que acaba de perder o pai



quinta-feira, 29 de junho de 2017

Lições de sábado 304

Precisamos de poucas certezas. Algumas têm a ver com o amor. Outras com a sobrevivência. Outras ainda com os filhos, a família, o trabalho. Mas menos ainda com nós mesmos. Eu não precisaria de muito, mas o pouco vai se alastrando e, quando vemos, carregamos um vagão de coisas acumuladas das quais nem nos lembramos mais. Mas o que é essencial fica. Podemos perder toda a nossa bagagem, para ficar apenas com o indispensável. Somente o necessário, diz a música do urso Balu para Mogli. O extraordinário é demais. E isso deveria nos bastar. Avançamos em todas as frentes, para fazer mais, ter mais, ir a mais lugares e, ao voltarmos, temos malas demais. Despir-se ou despedir-se do que não precisamos é uma escolha. Um médico ao definir a fome disse: "Se trocar a comida por outra coisa, não é fome. Porque, se estiver com fome, não irá trocá-la por coisa nenhuma". Assim, se preferir Paris a um prato de doces, na verdade, não quer os doces. Se trocamos uma coisa por outra, aquilo que preterimos não tinha nossa preferência. Sempre temos de escolher, mesmo que não queiramos. Mas ficar com o essencial, o imprescindível, o insubstituível, aquele que é o único no mundo, isso, sim, é certeza. 

29/06-2017 - 12h46 - Dia de São Pedro

 



quinta-feira, 8 de junho de 2017

Lições de sábado 303

"Admirável Mundo Novo" (1931), de Aldous Huxley, "1984" (1948), de George Orwell e "Fahrenheit 451" (1953), de Ray Bradbury, são três livros que assombraram os leitores com suas previsões de futuro. Um escrito antes e, os outros dois, após a Segunda Guerra Mundial, tinham a visão catastrófica de futuro de seus autores, onde uma nesga de esperança se esboçava. Em geral, essas histórias se confundem no imaginário, pois todas revelam a pior face do homem, contrastada com o desejo de superação ante as intempéries. Mesmo que os protagonistas sucumbam, haja traição ou rivalidades, a mensagem que passam é que pode existir um mundo melhor, podem haver homens e mulheres melhores e que o egoísmo e o poder não sufoquem a liberdade de pensamento e de ação. Num momento em que falamos de libertar livros, de professores e de escolas, de crianças e poesia, a morte do autor de "Fahrenheit 451", Ray Bradbury, vem pontuar este momento de valorização da escrita, de mudança de hábitos, de transmissão de ideias, de novos autores, de futuro dos livros, este autor que temeu pela extinção da cultura e do conhecimento nesta ficção em que os livros são banidos e queimados, fazendo pessoas decorarem os textos e se transformarem em livros para que eles não se percam. É uma das histórias mais tocantes para mim, desde que assisti a este filme de François Truffaut, de 1966, com este ator tão carismático, Oskar Werner e a sempre querida Julie Christie, que fez o papel duplo de mulher de Montag e da amiga Clarisse, que o leva para a "terra dos homens-livro", onde se refugiam aqueles que sabem os livros de cor. Oskar Werner era austríaco e fez poucos filmes, que ficaram famosos, mas, entre eles, estão "O espião que veio do frio", "As sandálias do pescador" e "Jules e Jim". Julie Christie, entre os vários filmes que fez, atuou em "Doutor Jivago", com Omar Shariff e "O céu pode esperar", numa nova versão, com Warren Beatty.

7/06/2012 - 12h07


sexta-feira, 26 de maio de 2017

Lições de sábado 302

Em 26 de maio de 1897, Bram Stoker publicou "Drácula", sua obra mais importante, inspirada num original de Dr. John Polidori, médico de Lord Byron, que escreveu "O Vampiro", durante três dias que passaram confinados no castelo do poeta, à beira do Lac Léman, em Genebra. Por sua vez, Mary Shelley, que acompanhava o marido Percy Shelley, nessa mesma ocasião, iniciou a escrita de "Frankenstein", publicado em 1818, de onde se pode concluir ser o irmão literário de Drácula. Byron escreveu o Canto III de Childe Harold e Shelley não aproveitou nada do que escreveu. E nesse dia, em 1799, nasceu Alexander S. Pushkin, escritor russo, autor de "Eugene Onegin", um romance em versos, transformado em ópera, em 1879, por Tchaikovsky e, posteriormente, em balé. Pushkin traduziu algumas das liras de "Marília de Dirceu", de Tomás Antônio Gonzaga, publicado em Lisboa, em 1792, o mesmo ano do degredo do poeta português para Moçambique após a Inconfidência Mineira. De algum modo, esse livro (best-seller em seu tempo, com 30 edições no século XIX) chegou às mãos do poeta russo, que morreu em 1837, dois dias após ter sido ferido num duelo com o suposto amante de sua mulher. Coincidências literárias que nos dizem que a vida passa por dentro da literatura. 
26/05/2017 - 11h06




quinta-feira, 18 de maio de 2017

Lições de sábado 301


Pedro encontra Bandeira na praça

Meu amigo Pedro Lage, aos dez anos, conheceu Manuel Bandeira, apresentado pela avó, numa feira de livros, no centro da cidade. Ao saber que aquele era o poeta que escrevera os poemas que ele havia lido, imediatamente perguntou a Bandeira: "Você esteve em Pasárgada?" O poeta sorriu e disse que não. Pedro ficou inconformado. Nessa história, três coisas me assombraram: primeiro, ele ter tido a chance de encontrar o poeta, apresentado pela avó; segundo, já conhecer o poema "Vou-me embora para Pasárgada" aos dez anos de idade e, terceiro, ter feito esta pergunta a Bandeira à queima-roupa. Só um dos fatos já me encantaria, mas os três juntos, são sublimes. 

16/05/2016 - 17h12



domingo, 14 de maio de 2017

Lições de sábado 300

Tudo que fazemos reflete quem somos. Somos somente o reflexo do que pensamos. Se o que pensamos é o reflexo do que sentimos, somos o que sentimos e fazemos o que pensamos.

6/05/2014 - 12h19


Lições de sábado 299

Estamos vivendo uma nova Inconfidência, em que privilegiam os delatores da mesma corja de bandidos. Os Silvérios e Calabares são os heróis da mesma Corte que eles dilapidam. É um tempo sério em que não teremos mais em quem confiar. Perdeu-se a confiança no governo e nos governantes e dirigentes do País. O poder troca de mãos entre delatores e delatados e os que se locupletam com a dança das cadeiras. Ordem e progresso saíram de nossa bandeira. Nunca se viu tanta vergonha na História deste Brasil.

7/05/2015 - 14h05


Lições de sábado Vol. 1 e 2

A dois textos de completar 300 Lições de sábado, aproveito para anunciar a publicação de "Lições de sábado Vol. 2", que estará disponível no segundo semestre. Como este ano está muito mais devagar que os anteriores, as edições estão custando mais a sair, mas não para serem escritas. Escrever é fácil. Publicar merece muito mais tempo, dedicação e dinheiro, principalmente dinheiro, porque inspiração é o que não falta. Lições de sábado Vol. 1 está disponível no site da editora: http://ibislibris.loja2.com.br.


Lições de sábado 298

Tomados pelo amor, Tristão e Isolda, relutam, até o fim, para se entregar ao que o destino lhes reservou. Um amor maior que eles mesmos, que eles aceitam e negam, e são capazes dos maiores sacrifícios para vivê-lo. A tragédia em pleno ar. Um não pode se sobrepujar à vontade do outro. A vontade de um tem que conter a vontade do outro e irmanarem-se em seu afeto. A pureza dos sentidos os tira da realidade e os devolve ao lugar onde essa entrega se realiza, muito além deles, além de suas forças, onde eles jamais estariam se não se amassem. O que vemos diante dos olhos foi feito para nos ludibriar. Nada é tão simples quanto parece e tudo precede algo melhor. Se hoje não fiz tudo que queria, amanhã poderei ter essa chance, e vivemos mais nos interregnos do que quando estamos realizando. “A espera que é magnífica”, já disse André Breton, em seu “L’amour fou”, onde cabem todos os gestos, principalmente os de amor. Nada sabemos, mas tudo podemos fazer, mesmo sem conhecer a fundo todas as possibilidades. Quando não se sabe o que fazer, não faça nada: é melhor errar por omissão. Ninguém pode culpá-lo por não saber.

10-11/08/2013 - 19h



sábado, 6 de maio de 2017

Lições de sábado 297

As coincidências se acumulam. Todas as coisas vão se acumulando de símbolos. Cercam-nos e nos dizem onde estamos indo. Um alerta para dias sem nuvens. Quando o vento não sopra a direção e é preciso navegar os ares. Os sinais são a única forma de saber que estamos indo na direção certa. A vida seria um deserto se não soubéssemos para onde ir.

6/05/2017 - 12h33


sexta-feira, 5 de maio de 2017

Lições de sábado 296

Os dias não são brandos. Eles carregam os frutos pesados do tempo. Embora tentemos descartar todos os pomos de discórdia, eles voltam no mesmo cesto onde colhemos nosso alimento. O que plantamos com o que nos dão forma a árvore que temos plantada em nosso jardim.
2/05/2017 - 13h16



quinta-feira, 9 de março de 2017

Lições de sábado 295


Erro de tradução: Jesus não era carpinteiro, era arquiteto. "Tekton", em grego, derivou para "architekton" (grande construtor). Uma das descobertas ao ler "O que Jesus disse, o que Jesus não disse: Quem mudou a Bíblia e por quê", de Bart D. Ehrman, um livro realmente surpreendente. A informação "carpinteiro" foi fruto da má tradução e só foi escrita uma vez no Novo Testamento. A Bíblia (que quer dizer "vários livros") foi escrita por vários autores, e seus textos originais se perderam ou foram mal copiados ou mal traduzidos, ou seja, criaram uma confusão muito grande, e o resultado não é um livro divino, mas um livro humano, pois, se Deus quisesse que sua palavra fosse escrita, teria deixado um documento imutável. Mas como Deus não precisa de palavras, nunca escreveu um livro e só os homens escreveram. O que nos salva é nossa fé, que não precisa de palavras, pois não se pode prová-la senão através de milagres.

9/03/2012 - 17h53


quarta-feira, 1 de março de 2017

Lições de sábado 294

Amar é a única forma de recriar-se. Deixar de ser qualquer um e ser outro, que é o mesmo, com a mesma fórmula sintética do agora. Agora é onde estamos irremediavelmente - e porque sabemos, antes de todas as coisas, somente serão perfeitas se forem amadas. E deixamos todas as outras fenecerem. A árvore da vida renova seus frutos, porque nos alimentam. E para nos alimentarmos do novo. Veremos o futuro com os mesmos olhos de hoje. E serão novas visões do Paraíso.


1/03/2017 – 13h56