Há um modo de ver as coisas que pode passar despercebido.
Mas ao serem mostradas, tornam-se visíveis.
23/12/2016 - 13h30
quinta-feira, 29 de dezembro de 2016
Lições de sábado 273
Tenha amigos que:
1. Gostem de tomar café com você.
2. Convidem para ir ao cinema.
3. Deem livros de presente.
4. Lembrem de você por acaso.
5. Comprem um presente que é "a sua cara".
6. Falem bem de você para os outros.
7. Defendam-no quando alguém falar mal.
8. Liguem só para saber se está bem.
9. Escrevam uma carta ou um poema para você.
10. Convidem para ir em sua casa e o visitem de vez em quando.
1. Gostem de tomar café com você.
2. Convidem para ir ao cinema.
3. Deem livros de presente.
4. Lembrem de você por acaso.
5. Comprem um presente que é "a sua cara".
6. Falem bem de você para os outros.
7. Defendam-no quando alguém falar mal.
8. Liguem só para saber se está bem.
9. Escrevam uma carta ou um poema para você.
10. Convidem para ir em sua casa e o visitem de vez em quando.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
Lições de sábado 272
Brasil é uma sucessão de erros que queremos que deem certo. Começa com
um descobrimento de coisa sabida, passa pelas mãos de degredados e piratas,
vira jazigo de ouro e pedras preciosas, é depenado, depauperado e explorado,
torna-se receptáculo do maior contingente de escravos da África, é o último a
libertá-los, tem rei, imperador e presidente, um sem número de constituições,
petróleo e todas as riquezas minerais, fauna e flora, em que se plantando tudo
dá, mas nunca teve a decência de seus governantes, salvo honradas exceções. A História do Brasil é um erro tão grande que depois de ter elegido o partido dos
trabalhadores e perdido o que lhe restava de honradez, está às cegas à procura
de uma porta que lhe mostre a saída desse circo de horror. Pobre, envergonhado,
enxovalhado e ridículo. Pois só quem é ridículo aceita tanta humilhação.
23/11/2016 - 19h45
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
Lições de sábado 271
Sempre no final do ano muitos se vão. Como se escolhessem o final da
linha para terminar a jornada. A lista daqueles que partiram no fim do ano se
alonga quanto mais se pensa que a missão deles se cumpriu. Achamos que a vida
deveria durar mais, toda vez que alguém morre. Aí nos lembramos que ela não é
infinita. Mas estar aqui nos faz sentir imortais. Enquanto houver vida, nós a
viveremos. E não pensaremos que um dia isso acaba. Até o dia que acabar. Os que
partem, vão inteiros. Nós
que ficamos sós com a partida.
4/12/2016 - 9h10
Lições de sábado 270
A felicidade é o biscoito mais fino do pacote, que rompe ao menor toque, que se esfarela entre os dedos e deixa um rastro de açúcar por toda a parte.
5/12/2016 - 16h
Lições de sábado 269
Onomatopeia. O som das coisas como elas são. Eu só lembrei dessa palavra agora. Quis usar antes, mas me escapou. Deve ser o cansaço. Muita coisa nesse final de ano. Muitas despedidas, muitas partidas, muitos adeuses. Isso quer dizer por outro lado que haverá chegadas, novidades e coisas novas acontecendo. A vida não para. É um moto contínuo. Uns vêm e outros se vão. Para chegar é preciso partir. E depois da partida de uns, outros chegarão. É preciso abrir espaço para o novo.
7/12/2016 - 2h37
Lições de sábado 268
O Brasil é esse país híbrido em que a República se debate com a escória, a democracia respira por aparelhos, a lei se arrasta por túneis, os legisladores se esgueiram entre trincheiras e os juízes tentam conter o que resta de seriedade do poder que emana do povo e em seu nome é exercido.
8/12/2016 - 00h12
Lições de sábado 267
Meu pai era o chefe do departamento jurídico do Itamaraty quando chegou para ele esta consulta: qual deveria ser o nome do país a partir da constituição de 1967, que até então chamava-se Estados Unidos do Brasil? Papai pegou o texto da nova constituição que estava em tramitação na Assembleia Constituinte e leu: "Art 1o.: O Brasil é uma República Federativa", portanto, República Federativa do Brasil. Estava dado o nome ao país como se fosse o ovo de Colombo, mas papai nunca quis assumir a autoria, embora tivesse escrito isso em seu parecer. Ele deu o nome ao Brasil e continuou incógnito. Na mudança para a atual constituição, eliminou-se esse artigo e copiou-se o introito da constituição americana, embora não sejamos mais Estados Unidos do Brasil.
8/12/2016 - 6h18
Lições de sábado 266
Os últimos fatos me mostraram o seguinte: que a verdade é melhor do que a pior mentira e agir de boa fé nos protege de um azar maior. Nem tudo acontece como se espera, mas pode acontecer melhor do que se esperou.
10/12/2016 - 8h07
Lições de sábado 265
Para os brasileiros, a galeria de presidentes da República é um encontro de personagens sui generis. Observando os que estão aí, o meu tataravô Prudente de Moraes não poderia deixar de estar, bem no alto, ao lado da Marianne, a imagem francesa da própria República. Fora uns três que não reconheço, essa capa é nova, pois já inclui Dilma Roussef. Eu tinha esquecido que o autor Paulo Schmidt estava na minha lista de contatos. Eu não sou muito fã de um guia politicamente incorreto, mas é o que os brasileiros precisam ser, politicamente incorretos para suportar a atual cena política. Já que a vergonha na cara virou artigo de luxo, vamos entender essa gente que acaba sendo eleita por nós (quer dizer a maioria, já que a maioria é que manda).
11/12/2016 - 11h48
Lições de sábado 264
Meteoros, asteroides, cometas, nuvens cósmicas, planetas, sóis, estrelas, luas, o cosmos gira à nossa volta e nós à volta de nós mesmos, girando em revoluções e translações, esperando o ano recomeçar, como se mudássemos o destino mudando de filme, de livro, de casa, de bairro, de mulher, de marido. Os cometas sempre retornam ao seu lugar de origem, cumprem sua longa órbita oblíqua, tornando-se novamente visíveis. Tudo é efêmero e tudo passa, só importa o hoje, o agora, aqui, este instante, este pensamento, porque tudo o mais é inconsútil, é memória, lembrança, reminiscência, e o que faremos pertence ao porvir, o tempo espacial ao qual pertenceremos no futuro.
12/12/2016 - 2h40
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
Lições de sábado 263
O que passa pela sua cabeça há mais tempo? Qual ideia você trouxe da infância? Ontem eu li num livro de frases: "O menino é o pai do homem". É assim desde Aristóteles, é assim desde Freud. Tantos pensadores refletiram sobre a vida e sabiam que sua infância pontilhou seu futuro. O que é mais caro a você desde que você se dá por gente? Aquilo que faço hoje é reflexo do que sempre fiz desde menina: ler livros e contar histórias. E por isso passei a fazê-los e é um aprendizado constante. Tudo que penso está em "Alice atrás do espelho", livro que li quando menina. Minha vida é um jogo de xadrez. Montar estratégias. De peão chegar a rainha. Lembram da história?
4/11/2012 - 11h43
sábado, 15 de outubro de 2016
Lições de sábado 262
Cada um tem o seu herói. Quando somos pequenos, queremos ser Peter Pan, ou Sininho, e sair voando até a Terra do Nunca. Não medimos esforços para conviver com nossos ídolos infantis, sejam da Disney ou da Marvel. Todo mundo já adorou assistir a Batman e Super Homem, mesmo antes de se digladiarem, e Capitão América e Thor continuam cada vez melhores. Não há Star Trek que nos impeça de sonhar com mundos onde o homem jamais esteve. Mas os heróis têm um motivo. Ninguém cantou "Twist and shout" só por gritar. Havia algo de derradeiro e de dernier cri nesse movimento pop que fez com que todos mudassem de modos e costumes. O mundo não foi mais o mesmo depois do rock'n'roll, dos beats e da contracultura. Por mais negligenciados que tenham sido (e foram). Mas os heróis ou heroínas são feitos de múltiplas máscaras que vestimos para enfrentar o mundo. São contos de fada modernos. Vêm embalados em velocidade do som e em anos-luz. Queremos escapar para um lugar onde ninguém irá atrás de nós. Somos Blade Runners involuntários, vivendo num mundo que pertence cada vez menos a nós. E os mitos, mitologias, fantasias, histórias em quadrinhos, ficções científicas e, por que não dizer, a literatura, preenchem esse vazio existencial que é o dia a dia. Escolhemos heróis para encarar a vida. Eles nos dizem que vale a pena seguir, mesmo que seja por uma via estreita, a mais difícil, a menos ponderada. Bob Dylan fez isso, não a mim, mas a muitos dos seus fãs. Eu escolhi outros heróis. Talvez não tão descolados, tão engajados, tão hardcore como Dylan, mas eram meus heróis e heroínas, que continuam me fortalecendo, seja Capitu, em "Dom Casmurro", seja Lorelei, em "Um aprendizado", de Clarice Lispector. Ter heróis é importantíssimo. Eles entram no lugar dos deuses mitológicos, quando não forem estes que nos ajudam a continuar.
Viva o professor!
15/10/2016 - 18h43
quarta-feira, 5 de outubro de 2016
Lições de sábado 261
Não sou mais criança. Aprendi duramente como amadurecer. Nada foi dado de graça, por mais benesses que eu desfrutasse. Tudo teve um custo. Tudo teve um preço. Por mais que eu tentasse, algo parecia falhar. Perfeição dura a chegar. Aprendi a me aperfeiçoar aos poucos. Lentamente. Como quem ergue um edifício. Para, do alto, poder contemplar a planura. E, durante o caminho, tropecei, fui alvo de críticas e puxadas de tapete, de mentiras e traições, de inverdades e injúrias. Nem todos permaneceram comigo. Poucos conhecem os degraus da escada que subi. Mas quem viu de perto, sabe o que houve, sabe o que eu fiz e por quê. Quem não souber, não vale a pena explicar. Vai demorar muito tempo. Descobri que é melhor depurar-se do que se deixar poluir. Aos poucos, saber fazer melhor. É um longo treino, que leva a vida inteira. E, às vésperas dos sessenta anos, só fui superada por quem chegou lá antes de mim. Por não ser mais criança, aprendi o que deveria saber há muito e, ao mesmo tempo, não esqueci o que é ser criança. Eu nunca fui mais velha do que dezoito anos. Dentro de mim, guardo essa idade. Para que, mais tarde, eu me lembre de mim.
6/10/2016 - 00h34
Para Hariklia Papapetrou, que lê todas as Lições de sábado e fica esperando por elas. Gratidão, amiga.
Foto de Fabio Giorgi: "7o. dia de chuva".
domingo, 11 de setembro de 2016
Lições de sábado 260
A revisão é uma arqueologia do poema. Vamos tirando por camadas e
enxergando mais fundo. Não há como ver tudo de uma vez, nem se perguntar por
quê. Há coisas que só se descobre no processo. O que pensamos no início muda no
final. Fazemos pequenas loucuras todos os dias, como continuar vivos e desafiar
o equilíbrio das coisas ao continuar nos movimentando. Estamos em contínuo
desafio às leis da natureza. Queremos ser como somos e não como querem que
sejamos. E isso é estar além do que foi pensado ou se pensou de nós. Nós que
não pensamos o que somos e somos o que somos mesmo assim. É um profundo
exercício fazer livros, sabendo que é uma atividade limite, limítrofe a todas
as outras. Vivemos apesar e sem eles. É como se existíssemos à parte de tudo
que dá dinheiro, e fizéssemos o que ninguém espera, mas mesmo assim esperam de
nós. Tenho pensado muito sobre isso, já que o tempo avança e parece desafiar o
que faço como o faço. É preciso mudar, adaptar-se, ser mais blogueira e Kéfera
para ter mídia, milhões que visualizam youtubes e coisas afins. E se nada disso
importa? E o que importa é o que somos, mesmo que ninguém saiba e não saia em
mídia nenhuma? Quando vejo editores vendendo os tubos com livros sobre economia
ou vampiros, ou qualquer outra coisa que não seja poesia, penso, deixe estar,
eu não saberia vender minha alma para esse tipo de coisa.
11/09/2016
- 16h36
quarta-feira, 3 de agosto de 2016
Lições de sábado 259
Livros de poesia são pièces de résistance. Quando tudo o mais parece fenecer, eles sobrevivem dando novo fôlego a quem pensa que está no fim. Quando não há mais nada a ser feito, os poemas são escritos, na solidão, na clausura, na prisão, no exílio. As cantigas de amor e de amigo surgiram na distância. A poesia supre quando se pensa não mais haver saída, porque é escrevendo que aprendemos a esperar. E os que leem aprendem também. Como o poema de William Ernest Henley, que Nelson Mandela leu durante 30 anos em sua cela, acreditando que um dia iria sair de lá, invicto, com a cabeça erguida, como diz o poema. Muitos poemas alimentam nossos sonhos e constroem a nossa fé. Seja escrevendo ou lendo-a, a poesia tem sido o cimento para abrirmos as estradas para onde queremos ir.
Minha tradução para o poema de William Ernest Henley (1849-1903):
INVICTUS (1875)
Diante da noite escura que me cobre,
Como uma cova aberta de um lado a outro,
Agradeço aos deuses
Por minha alma invencível.
Como uma cova aberta de um lado a outro,
Agradeço aos deuses
Por minha alma invencível.
Nas garras vis das circunstâncias,
Não titubeei, nem chorei.
Sob os golpes do infortúnio,
Minha cabeça sangra ainda erguida.
Não titubeei, nem chorei.
Sob os golpes do infortúnio,
Minha cabeça sangra ainda erguida.
Além deste vale de iras e lágrimas,
Assoma-se o horror das sombras,
E apesar dos anos de ameaças,
Sempre me encontrarão destemido.
Assoma-se o horror das sombras,
E apesar dos anos de ameaças,
Sempre me encontrarão destemido.
Não importa quão estreitas sejam as passagens,
Nem quantas punições sofrerei:
Eu sou o senhor do meu destino:
Eu sou o capitão da minha alma.
Nem quantas punições sofrerei:
Eu sou o senhor do meu destino:
Eu sou o capitão da minha alma.
Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta
William Ernest Henley escreveu o poema em 1875, mas somente o publicou em 1892, numa coletânea chamada "Echoes".
segunda-feira, 25 de julho de 2016
Lições de sábado 258
Um homem tem que ser completo. Se não for, nem adianta começar. Um homem de verdade aprende a conviver com você, e ama-a tanto que deixa de se importar com suas credulices. O problema que esse homem nem sempre vai estar disponível, mas quando estiver, use-o!
25/07/2014 - 9h55
quinta-feira, 21 de julho de 2016
Lições de sábado 257
A dor é um instrumento de sabedoria. Se assim não fosse, não haveria sofrimento de espécie alguma. Ele sempre nos conduz a uma compreensão que não tínhamos, mas que ocultamos em alguma parte do nosso ser. A perda, o mal entendido, a ausência, a carência, o desconforto, a doença, o medo, a rejeição são dores que mal conseguimos administrar, ou então negligenciamos. Todas essas dores são portadoras de sabedoria, até passar. Quando passam, descobrimos que aquele caminho nos tornou melhores. Mas, enquanto não passa, temos de suportar.
21/07/2012 - 15h32
sexta-feira, 17 de junho de 2016
Lições de sábado 256
Uma mão lava a outra e as duas lavam a cara. Cooperação. Reciprocidade. Empatia. Se estamos aqui para aprender o certo, o errado está por toda parte para sabermos o que não é certo. Embora, sem dicotomias, não pudéssemos distinguir o bem do mal, o universo trabalha para o Bem, mesmo quando o mal mostra a cara. Ele é o guarda que desvia o trânsito para você chegar no mesmo lugar, só que demora mais tempo.
17-06-2016 - 21h12
quinta-feira, 16 de junho de 2016
Lições de sábado 255
Tudo se acrescenta, quando pensamos perder. O maior sentido está no vazio, onde tudo se avoluma, por haver mais espaço para pensar no que nos falta.
16/06/2016 - 13h17
sexta-feira, 3 de junho de 2016
Lições de sábado 254
Numa regressão espontânea, eu cheguei a uma porta que se abria para um lugar onde vivi há 2.000 anos. Eu estava acordada, não era sonho, mas estava de olhos fechados, e tudo que via era nítido. Minha consciência incluía outra vida que passou a se mostrar como um filme guardado em minha mente. Uma voz me dizia quem eu era, e onde estava, de quem descendia, o que eu fazia, quem eram meus parentes. Eu era grega, mas vivia em Roma, na época de Cristo. Era uma vestal e morri muito velha, depois de servir 30 anos ao templo de Vesta. Eu me chamava Artemísia. Coincidentemente, é o mesmo nome da mulher de Mausolo, para quem ela mandou construir o Mausoléu de Halicarnasso, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Viver era só servir.
5/05/2012 - 16h33
Lições de sábado 253
Sempre que pensamos em fazer algo, se não deve ser feito, surge um imprevisto que impede que você cumpra seu intento. Isso é batata. Há vezes que o engano continua. E não se pode fazer nada. Mas, se temos uma proteção a mais, somos impedidos de fazer o que, inocentemente, tínhamos intenção de fazer. E somos preservados, a tempo, de um engano maior.
3/06/2016 - 16h29
terça-feira, 31 de maio de 2016
Lições de sábado 252
A poesia se escreve sem palavras, mas com palavras se escreve o poema. Com palavras se diz sim ou não, embora a boca não pronuncie nenhum som quando sorri. A boca assim comportada sabe quando falar e quando calar. Há poesia no silêncio. Mas há palavras num poema. Sem dizer nada, consigo expressar o que palavras não conseguem dizer. Os olhos falam. O silêncio fala. A língua nem se move. Mas ela se agita para dizer o poema e para dar e receber o beijo. Como na música, o poema é feito de palavras e silêncios, as pausas entre os versos, quando a mente começa a girar. E, nesse giro mágico, estão os sentimentos, que pousam sobre os olhos e a boca, e lhes devolvem o silêncio.
31/05/2015 - 17h25
31/05/2015 - 17h25
domingo, 29 de maio de 2016
Lições de sábado 251
O que será depois que eu passar? A longa jornada que nunca finda. A infinda caminhada para onde não sei que vou. Sei, no entanto, porque vou. Não há sentido em não ir, não há sentido em ficar parado, nem em esperar. Espero enquanto sigo. Sigo esperando que passe tudo que deve passar, e reste apenas o inexorável sentimento de quem superou tudo, viveu tudo, viu tudo, e ainda que ver e viver mais. Porque há muito mais a ser vivido depois de viver tudo que havia para se viver.
29/05/2014
sexta-feira, 20 de maio de 2016
Lições de sábado 250
Aprendemos a caminhar caminhando. A falar, falando. A amar, amando. Tudo é prática imediata. Nada em teoria se pratica. Só a prática é praticada. E o que em teoria não se aplica, na prática, pode ser explicada. Aprendi a ler, a escrever, a compreender, a deduzir, a somar e subtrair, a dividir e multiplicar. Aprendi, inclusive, a aceitar e a não aceitar. Aprendi o que se leva muito tempo para aprender, e o que se aprende imediatamente, através do amor. O amor é prática. E amor, só na prática. Em teoria, não existe.
20/05/2016 - 19h40
segunda-feira, 16 de maio de 2016
Lições de sábado 249
O menino encontra Manuel Bandeira na praça
Meu amigo Pedro Lage, aos dez anos, conheceu Manuel Bandeira, apresentado pela avó, numa feira de livros no centro da cidade. Ao saber que aquele era o poeta que havia escrito os poemas que ele lera, imediatamente perguntou a Bandeira:
- Você esteve em Pasárgada?
O poeta sorriu e disse que não. Pedro ficou inconformado.
Nessa história, três coisas me assombram: primeiro, ter tido a chance de encontrar o poeta apresentado pela avó, segundo, conhecer o poema "Vou-me embora para Pasárgada" aos dez anos de idade, e terceiro, ter feito essa pergunta a ele à queima-roupa. Só um dos fatos já me encantaria, mas os três juntos, são sublimes.
- Você esteve em Pasárgada?
O poeta sorriu e disse que não. Pedro ficou inconformado.
Nessa história, três coisas me assombram: primeiro, ter tido a chance de encontrar o poeta apresentado pela avó, segundo, conhecer o poema "Vou-me embora para Pasárgada" aos dez anos de idade, e terceiro, ter feito essa pergunta a ele à queima-roupa. Só um dos fatos já me encantaria, mas os três juntos, são sublimes.
domingo, 15 de maio de 2016
Lições de sábado 248
Há muita semelhança nos acasos: tudo que se parece guarda um sinal mais antigo que já estava lá.
16/05/2016 - 0h50
Lições de sábado 247
O que os olhos não veem o coração não sente, pois se vissem, o que pensariam? Imaginar, essa arte que antecede o feito, concilia o não visto com o que se pode ver. Ver na mente é concebê-lo e do concebido partimos para a forma, à execução, ao ato. Não basta querer: é preciso realizá-lo. Mãos à obra.
15/05/2016 - 1h07
Lições de sábado 246
Quem tem histórias maravilhosas para contar, escreve livros. Conta suas próprias histórias. Quantas coisas vivemos que nem contamos. E quando as reproduzimos é que percebemos como aqueles fatos nos moldaram, nos fizeram ir à frente, sem perceber. E como tivemos sorte.
14/05/2016 - 23h37
sábado, 14 de maio de 2016
Lições de sábado 245
Lendo sobre a guilhotina, e vendo fotos que tirei em Versailles em março de 2005, constato como o tempo une contradições e signos contrários. Aqui onde os Luíses de França viveram, onde o fausto e ostentação existiram, a débacle da Revolução Francesa, seguida da imperiosa ascensão de Napoleão, que só depois de Waterloo retomou seu curso, até a II Guerra Mundial, dividida entre a França do governo conivente e a Resistência, De Gaulle, Mitterrand, Sarkozy e agora Hollande, surge como símbolo deste país que serviu de exemplo para tantas nações, incluindo a nossa. A guilhotina foi usada até 1977 e desativada por Mitterrand em 1981, quase 200 anos depois de ter sido usada pela primeira vez, em 1792. Maria Antonieta, uma das mais célebres executadas, entrou na história da França pela porta da frente e morreu como herege. Lembra-me Leopoldina que se sacrificou pelo povo brasileiro, depois de dar-lhe um herdeiro e lutar pela Independência. Essas mulheres são sempre os pivôs de todas as mudanças cruciais na História da humanidade. Como uma coisa leva à outra, a Inconfidência Mineira, que aconteceu ao mesmo tempo que a Revolução Francesa, é a referência para todas as mudanças que aconteceram depois. Da França ao Brasil, a história continua. E, ao olhar por essas janelas, colocamo-nos no mesmo lugar desses Luíses, dessas rainhas que um dia governaram a França e olhamos para o horizonte, onde surgia o nosso Brasil.
6/11/2011
quinta-feira, 28 de abril de 2016
Lições de sábado 244
Há um momento em que o arrependimento não é mais necessário. Tanto fizemos para seguir em frente que não importa mais o que tivemos de deixar para trás. Importa o que ficou conosco. Importa quem está conosco. O efêmero e o permanente. Sempre viveremos essa dicotomia. O que fica e o que passa. E o que fica guardado em nós.
27/04/2016 - 00h52
quinta-feira, 21 de abril de 2016
Lições de sábado 243
Aprendemos que a vida é uma dança entre as pessoas que vêm e vão, que tudo passa, que nada fica, somente o amor que sentimos pelos outros. Amar e ser amado é a única missão terrena e, para isso, os seres humanos se confundem do começo ao fim, não sabem por que nascem, não sabem por que vivem, e também não sabem por que morrem. Mas vivemos à procura de um sentido, que só encontramos nos amigos, nos filhos, nos pais, nos que nos são mais caros. Viver é a eterna busca do amor. E se esse amor não se revela em nossos atos, não saberemos por que vivemos, porém existir já é a magia necessária para começarmos a descobrir.
21/04/2012
sexta-feira, 8 de abril de 2016
Lições de sábado 242
MIND THE GAP
Estamos tão
acelerados (ou desacelerados) em relação aos últimos acontecimentos, que hoje
não parece sexta, a semana passou voando, o tempo relativo difere do tempo
absoluto, e nos sentimos vivendo um hiato, um lapso, um gap, até que tudo se conclua,
ao serem marcadas para domingo a decisão que poderá mudar ou acertar o destino
do país. Um destino que vem a cada dia degringolando mais ainda, com vazamento
de delações, com novas declarações e depoimentos paralelos, com gravações
inesperadas de confissões em tribunais, sentimentos misturados sobre o que vem
nos assoberbando sobremaneira, que hoje parece sexta-feira, talvez segunda ou
terça, porque o tempo relativo não é o absoluto e nos vemos cercados de
ameaças, de hesitações, de afrontamentos que nunca esperávamos sofrer, nem
testemunhar. O crime tornou-se banal. A corrupção tornou-se diuturna. A vida
parece não ter mais valor diante de tanta mágoa, tanto horror. Já não bastavam
as notícias ruins de cada dia, em que eu pensava: "Esta é a pior notícia
que eu já li", e no dia seguinte, eu lia uma pior ainda. Estamos sendo
enxovalhados com más notícias. Uma guerra psicológica está em andamento. Um
golpe de notícias pavorosas. Fora os sofrimentos do dia a dia, da falta de
remédios, médicos, atendimentos, salários, empregos, trabalho, dinheiro. Nunca
antes na História deste país estivemos tão sofridos (ou sofremos mais, e não me
lembro?). O cérebro não se lembra de dores passadas, só das presentes. A dor
que passou é uma dor que superamos. E a dor presente ainda não se foi. Por isso parece
maior que todas as outras. E, enquanto tudo isso durar, estaremos indo ladeira
abaixo, às vésperas da primeira Olimpíada que irá acontecer no Brasil. A Copa
do Mundo foi um pavor. Que a Olimpíada pegue mais leve.
8/04/2016 – 18h02
Ilustração de Julia Flohr
domingo, 27 de março de 2016
Lições de sábado 241
"Um beijo não dado é um beijo perdido para sempre", gritou Ana Heloísa Páscoli na sala de aula quando tínhamos treze anos. Eu não sei onde ela leu essa frase, nem quem a escreveu, mas vivíamos buscando máximas para trocar todos os dias. Não sei por quê, ela abriu os braços de frente para a classe, e soltou essa exclamação como a maior verdade encontrada. Eu parei. Aquilo me tocou de tal forma, que, a partir daquele momento, passei a tomar minhas decisões a partir dessa frase. O que eu não fizesse, eu não teria mais a chance de fazer, não do mesmo modo, caso a oportunidade voltasse. Então assim pautei minha vida, para não perder para sempre nada que eu realmente quisesse. Todas as minhas escolhas por trinta anos seguiram essa norma, e arrisquei fazer coisas que talvez não devesse, mas pela urgência daquilo que não voltaria, escolhi o que não quis colocar de lado. Ao reencontrá-la depois desse tempo, perguntei-lhe se ela se lembrava de ter dito essa frase. Ela disse que não, mas que tinha sido bom eu ter-lhe lembrado. Dois anos depois, Ana Heloísa adoeceu e veio a falecer. As escolhas para ela haviam acabado, mas não para mim.
No dia do enterro, eu me atrasei. Peguei o táxi em Copacabana já depois de o velório ter começado e, mesmo assim, parti para o Caju. Ao sentar no carro, tocava uma música dos Carpenters. Eu me espantei pela coincidência de ter sido aquele o fundo musical de nossa adolescência. Mas ao se seguir outra e mais outra música cantada por Karen, perguntei ao motorista o que estava tocando. Ele disse ser uma fita antiga, que ele ouvia uma vez por semana. De todos os táxis no Rio de Janeiro, entrei no único que tinha uma fita dos Carpenters para me levar para o enterro de Ana Heloísa naquela manhã, tocando ao final "Close to you". Chorei todo o caminho.
Ao chegar lá, já haviam seguido para o crematório, do outro lado da entrada principal. Aturdida, atravessei o cemitério, em meio a imagens de anjos e Cristos crucificados, numa visão hiper gótica, sob um forte mormaço. No centro do cemitério, havia um cruzeiro que marcava a metade do percurso que ainda deveria seguir. Nesse momento, me veio um pensamento bem alto para que eu não deixasse de ouvir: "Um beijo dado é um beijo guardado para sempre", como uma resposta àqueles trinta anos de indagação. De onde ela estava, Ana Heloísa me dava a resposta que eu tanto procurara. O que eu não vivi, não voltaria, mas o que eu vivesse, guardaria para sempre. Essa foi a solução que ela me trouxe, resolvendo a equação que eu deixara por tanto tempo em aberto. Só poderia ter vindo dela, a mesma que me apresentou a questão, que conduziu toda a minha vida.
27/03/2016 - 22h15 - Domingo de Páscoa
XX
Para Ana Heloísa Páscoli (1957-2001)
Um dia a menina gritou:
“Um beijo não dado é um beijo perdido!”
e ecoou numa eternidade e seguiu sei lá
para onde,
atravessando um ouvido lá, um peito ali,
talvez uns olhos.
Eu atravessei a vida,
os desertos, os oásis e seus rostos
e um dia chegou a mim e ouvi:
“Um beijo não dado é um beijo perdido!”
Pasmo, confuso, aturdido,
vi o clarão no meu caminho para Damasco,
olhei para trás e pensei:
“Meu Deus, meus Deus...
O que deixei pelos caminhos,
tudo perdi, só agora o sei...”
in "Diários de amor perdido" (2008), de João José de Melo Franco
quinta-feira, 24 de março de 2016
Lições de sábado 240
"Não são os ossos que garantem a imortalidade à Mona Lisa, mas, sim, o sorriso". Esta frase de Flavio Sanso, se nos pega desprevenidos, provoca uma reação imediata. Não é a tenra carne de sua face, nem a calidez de suas mãos, nem o contorno de seus ombros que nos cativam há 500 anos (1503-1517), mas a lembrança de seu sorriso que perdura por muito tempo depois de vê-lo, seja ao vivo, seja em foto, numa reprodução barata, numa camiseta, sempre será a Mona Lisa eternizada, tantas vezes repintada, estilizada, repetida como um ícone contemporâneo à la Andy Warhol. Nenhuma mulher de seu tempo foi tão glamourizada, como uma Princesa Diana da Renascença. "Nada é mais extremo que a permanência", escrevi num poema que publiquei em pôster, em 1983, chamado "Décima lua" e depois no meu livro "Areal", em 1995. Este verso se destacou dos demais justamente por conter uma verdade intocável: não há nada que queiramos mais do que a permanência. E pelos rastros deixados por nossos antepassados, tentamos descobrir como viviam, o que pensavam. O que pensava a Mona Lisa? Como a Dama Negra dos sonetos de Shakespeare, só a descrição deixada pelo Bardo nos traz esses indícios. Como vivia Marília de Dirceu? Só Tomás Antônio Gonzaga a descreveu. A perpetuidade dessas mulheres nos assombra, pois, na idolatria de seus amados, conseguiram passar à história como a perenidade das estrelas. Ora, direis... decerto perdeste o senso. Mas não são as mulheres que provocam esses suspiros que se perpetuam nos poemas, nas esculturas, nas lápides, nas pinturas, nos nomes dados a tantos objetos? O que garantiu a imortalidade à Mona Lisa foi seu sorriso e a mão que a pintou. Leonardo Da Vinci fez muito mais do que isso, mas foi este quadro, por sua vez, que o imortalizou.
24/03/2016 - 18h42
sexta-feira, 18 de março de 2016
Lições de sábado 239
"É preciso ter drama", me disse
certa vez a professora de roteiro na Universidade do Colorado, em Boulder. Não
adianta criar uma história que não tenha embate. Tem que haver conflito. Tem
que haver antagonismo, senão a narrativa não decola. Fiquei pensando longamente
sobre isso, no início de 2005, enquanto criava os diálogos centrais de "Breve
anunciação", minha peça de teatro que estreou em junho de 2013 e permaneceu
dois meses em cartaz, no Solar do Jambeiro, em Niterói. Escrevi pensando em
descrever um relacionamento, colocar tudo que gostaria que pudesse ser ou
tivesse sido dito entre duas pessoas que se amam. Muitas das falas foram
criadas, outras apenas reescritas, mesmo fora do contexto inicial. A
experiência me mostrou que o drama é a melhor forma de passar uma mensagem. Não
adianta apenas enunciar. Tem que haver dor e separação, negação e mentira, para
que se descubra a luz da verdade, o instante divino, o abraço do amor. No
contraste, descobrimos o que precisamos ver. E, na dramatização do desejo,
sabemos como expressá-lo. Talvez sejam dessas experiências que precisemos para
atravessar o deserto do desconforto, a fímbria do fim, o absurdo das
circunstâncias, para valorizarmos "o tempo presente, os homens
presentes, a vida presente", como nos disse Carlos Drummond de Andrade,
em seu poema "Mãos dadas", em "Sentimento do mundo".
18-03-2016 - 22h29
Mãos Dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos
dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma
história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem
vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de
suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado
por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo
presente, os homens presentes,
a vida presente.
in “Sentimento do Mundo”
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
Lições de sábado 238
Há coisas que crescem à sombra de outras, não porque não possam existir ao sol, mas por ser sua forma de existir. Há coisas que precisam de uma proteção maior e alguns vivem para criar essa proteção. Nem todos possuem a mesma natureza.
25/02/2016 - 19h38
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
domingo, 21 de fevereiro de 2016
Lições de sábado 236
Há dias em que vivemos grandes histórias, que superam de longe outros dias, justamente para nos lembrar que ainda não
vivemos tudo, tudo pode mudar e cada dia é único em seus dons, talentos e
maestria. Podemos ser avisados que algo irá acontecer, mas nunca saberemos de
fato o que é até vivê-lo.
20/02/2016 - 20h02
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