sexta-feira, 8 de abril de 2016

Lições de sábado 242

MIND THE GAP

Estamos tão acelerados (ou desacelerados) em relação aos últimos acontecimentos, que hoje não parece sexta, a semana passou voando, o tempo relativo difere do tempo absoluto, e nos sentimos vivendo um hiato, um lapso, um gap, até que tudo se conclua, ao serem marcadas para domingo a decisão que poderá mudar ou acertar o destino do país. Um destino que vem a cada dia degringolando mais ainda, com vazamento de delações, com novas declarações e depoimentos paralelos, com gravações inesperadas de confissões em tribunais, sentimentos misturados sobre o que vem nos assoberbando sobremaneira, que hoje parece sexta-feira, talvez segunda ou terça, porque o tempo relativo não é o absoluto e nos vemos cercados de ameaças, de hesitações, de afrontamentos que nunca esperávamos sofrer, nem testemunhar. O crime tornou-se banal. A corrupção tornou-se diuturna. A vida parece não ter mais valor diante de tanta mágoa, tanto horror. Já não bastavam as notícias ruins de cada dia, em que eu pensava: "Esta é a pior notícia que eu já li", e no dia seguinte, eu lia uma pior ainda. Estamos sendo enxovalhados com más notícias. Uma guerra psicológica está em andamento. Um golpe de notícias pavorosas. Fora os sofrimentos do dia a dia, da falta de remédios, médicos, atendimentos, salários, empregos, trabalho, dinheiro. Nunca antes na História deste país estivemos tão sofridos (ou sofremos mais, e não me lembro?). O cérebro não se lembra de dores passadas, só das presentes. A dor que passou é uma dor que superamos. E a dor presente ainda não se foi. Por isso parece maior que todas as outras. E, enquanto tudo isso durar, estaremos indo ladeira abaixo, às vésperas da primeira Olimpíada que irá acontecer no Brasil. A Copa do Mundo foi um pavor. Que a Olimpíada pegue mais leve.

8/04/2016 – 18h02

Ilustração de Julia Flohr 

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