terça-feira, 7 de novembro de 2017

Lições de sábado 324

Em 1976, tive uma colega no terceiro ano do colégio, que se dizia neta de Cecília Meireles. Ela provava isso mostrando a foto das netas, Fernanda Maria e Maria de Fátima, publicada nas obras completas da Aguilar. "Eu tenho todos os livros de vovó", dizia ela. A professora, distraída, respondeu: "Ah, poderíamos fazer uma entrevista com ela". "Não é possível, professora... ela já morreu". E eu passei os 20 anos seguintes acreditando que tinha estudado com Fafá, neta de Cecília Meireles, irmã de Fernanda C Dias. Mas, em 2001, centenário de nascimento de Cecília, conheci Fernanda, que me disse: "Nós nunca estudamos em São Paulo". Eu caí do céu. Como era possível que aquela menina, se aproveitando de ter o mesmo nome, apelido e idade se passava por neta de quem não era? (Há outros casos assim, mas conto depois.) Quando finalmente conheci a verdadeira Fafá, era como se reencontrasse alguém que nunca tinha visto, mas que acreditava ter conhecido. Uma intimidade através da pessoa errada. O verdadeiro erro de pessoa. Achar que é uma pessoa que ela não é. Aliás, isso não é erro de pessoa, é falsidade ideológica. 

7/11/2017 - 13h23



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