sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Lições de sábado 330

Fim de ano tem sempre o mesmo gosto: ano que vem será melhor. O que passou que não foi bom tendemos a rejeitar com um levantar de ombros e um desdém que não tem fim. Queremos esquecer o que não gostamos e nos fixamos apenas nos “bons momentos”. O que não foi bom também ajudou a sabermos o que é bom. Não adianta só querer a polpa do fruto. Tem que tirar a casca. Vivi sempre como se carregasse um fardo imenso, nunca vivi leve e despreocupada – talvez só na infância e adolescência quanto nada era assim tão sério, senão as seriíssimas questões de criança. Um dia escrevi num poema que só publiquei no Jornal Análise, do DCE Mackenzie: “Carrego um fardo, como quem voa”, que minha mãe achou o verso divino e repetia como um mantra. Assim deveríamos viver, como se voássemos, nada a nos preocupar a fundo, porque, segundo ela, “tudo já estava resolvido, pronto e terminado”. Hoje vejo que carregar fardos é um aspecto astrológico, não nos livramos disso tão facilmente. Há que se pagar um preço para ser “livre”. “O preço da liberdade é a eterna vigilância”, disse Abraham Lincoln. Então, nunca seremos tão livres assim, se tivermos de tomar conta dos inimigos, declarados ou não. Fim de ano tem gosto de quero tudo novo, quero tudo melhor, quero estar feliz sem ter de me preocupar. E principalmente sem ter contas para pagar. Se a vida termina de repente, não podemos nos preocupar só com pagar as contas. Temos de viver, mesmo sem as contas pagas. Porque isso, segundo consta, se resolverá por si só. 


22/12/2017 – 16h33




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