quinta-feira, 12 de março de 2015

Lições de sábado 196

Há dias em que nem deveríamos acordar, como disse Silvio Ribeiro de Castro em seu poema "Amantes", mas temos de sair da cama assim mesmo. Nada dá certo nesse dia. Recebemos uma carta de cobrança, um mandado de intimação, um oficial de justiça na porta, um telefonema do banco, um e-mail de alguém insatisfeito, um boleto de custas judiciais da Vara da Fazenda Pública de uma dívida herdada dos nossos pais. Há dias em que não estamos preparados para receber más notícias, mas temos de recebê-las assim mesmo. A morte de um conhecido, o acidente de um ator famoso, a condenação de um músico por fraude, quando tudo que ele queria fazer era prestar uma homenagem ao cantor. A primeira página do jornal está cheia de notícias terríveis. Vão aumentar a alíquota do imposto de renda, a luz e a água subiram, o IPTU está mais caro, a água vai ser racionada, os preços do supermercado subiram, mas temos de pagar as contas do mês assim mesmo. A única diferença quando essas coisas acontecem e quando não acontecem é que agora sabemos quem é o inimigo e o tamanho da fatura que teremos de pagar, e que tudo que fizemos até hoje pode ser entendido ao contrário, porque quem nos vê pensa que tudo nos é dado de graça, quando isso não é verdade. Só nós sabemos quanto temos de correr para ficar no mesmo lugar, como é matar um leão por dia, o esforço que fazemos para que tudo dê certo no final. Mas ninguém se importa. Só interessa o flash e o clique da máquina fotográfica congelando o momento e ali você parece feliz e despreocupado. Não interessa se a pressão subiu ou possa estar sofrendo de diabetes. O mundo não é uma foto no Facebook. Há dias que pedimos que acabe logo, mas ele irá durar as exatas 24 horas de qualquer dia. E nossa vida o tempo regulamentar ou até puxarem o cartão vermelho do bolso e nos colocarem para fora de campo. Até lá, sorria. Não vai fazer a menor diferença se der certo ou não, porque tudo no final se ajeita. Os caminhos são tortos, e muito tortos, por sinal. Já passamos por tantas poucas e boas, e não vai ser agora que isso vai mudar. Dizer que eu errei não me faz ter cometido o erro. A crença de que erramos não é o erro. Quando nos acusam, acusam em si mesmos o que não fizeram e temos de provar a nossa inocência, quando se é inocente até prova em contrário. Há dias que não deveriam existir no calendário, mas existem. E nada pode ser feito para evitá-los. Mas acredite que, no final, o feitiço vira contra o feiticeiro.
12/03/2015 - 21h51


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