domingo, 8 de julho de 2018

Lições de sábado 350

A poucos dias do meu aniversário, me pergunto o que tento fazer que nunca acaba? Há várias coisas concluídas, sim, mas muitas mais a fazer, que não me deixam ver o que vem à frente, e pouco posso planejar. Sou assoberbada a todo tempo pelo que precisa ser feito para a sobrevivência, de imediato, o que ficou pendente, o que não tive tempo de fazer, e ainda restam coisas inconclusas. O livro que nunca comecei, aquele que ainda não terminei, o que falta arrematar, o que está esperando edição, embora estejam prontos nas gavetas (gavetas digitais). Me perguntaram o que eu amo que não faço mais. Lembrei do balé clássico que abandonei aos 27 anos, do violão que deixei de tocar aos 18, embora guarde-o comigo até hoje, bem como as últimas sapatilhas. A única coisa que eu nunca abandonei (e que nunca me abandonou) foi a poesia, que me levou a fazer livros, a conhecer pessoas e a lugares que nunca esperei ir. A poesia me trouxe uma outra forma de sustento para a qual eu não havia me preparado. A Faculdade de Direito, a Cultura Inglesa, a Aliança Francesa não previam a publicação de livros. E no entanto foi o que eu aprendi a fazer quando ainda cursava Direito: a me publicar e publicar os outros. Muitos anos depois isso se revelou como minha vocação e meu ganha-pão. Fazer livros é um trabalho que precisa de dedicação. E nesse processo estou sempre concluindo um livro e começando outro, enquanto reviso um terceiro e quarto livro que se acumularam. Isso para não falar das traduções. Em cima da mesa hoje tenho vinte livros, cada um numa etapa diferente. Fora os 14 que já fiz este ano, entre inéditos e reimpressões. E por isso tenho a sensação de não conseguir terminar nunca, embora conclua cada um a seu tempo. Quatro chegaram da gráfica, e mais quatro foram enviados para impressão, enquanto mais quatro esperam revisão, e outros quatro estão sendo diagramados. Cansou? Imagine eu. Por vezes quero fazer menos. Outras, abandonar tudo. Mas existe o fio de responsabilidades que permanece quase inalterado. Dívidas que não acabam, uma herança de duas décadas que ainda estou pagando. Quando termino uma, outra surge, quase sem querer. Então o passivo continua maior do que o ativo, nessa rolagem de dívidas sem fim, tudo por causa de um tombo financeiro (o último) em 1998. Vinte anos se passaram e ainda espero a mão milagrosa que me tire desse fosso (aumentado pelos desmandos econômicos). À beira dos 61 anos, ainda me pergunto onde terminará essa roda-viva para me dar um pouco mais de tranquilidade. Sempre despindo um santo para cobrir outro. Um cobertor curto demais. E, apesar disso, ainda tenho tempo para a poesia. Não é à toa que não consegui mais dançar, nem cantar, nem tocar violão. Não houve mais tempo. O tempo foi todo tomado pelos livros e pela sobrevivência que eles me dão. E a poesia continuou sendo meu principal alimento. 

8/07/2018 - 10h30     


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