sábado, 12 de janeiro de 2019

Lições de sábado 354


Na escola, li uma frase numa aula de religião que dizia: "O mestre pode lhe passar o seu conhecimento, mas não a sua mente". E ponderei longamente sobre isso. Hoje entendo que posso falar sobre o que sei, o que aprendi, mas não posso transferir tudo que incorporei e introjetei ao longo da vida, aquilo que forma as conexões e sinapses do meu raciocínio. Para traduzir um livro, somam-se todos os livros, todas as aulas, todos os filmes, todas as conversas, todos os insights, todas as lembranças, todas as visões que guardamos na mente, aquela que não posso transferir para ninguém, por mais que eu conte em detalhes o que sei. E sei tão pouco perto do que precisa ser aprendido. Meu avô era engenheiro e tocava flauta divinamente. Ele costumava dizer: "Mostre o pouco que sabe e não o muito que desconhece". Esta é uma das regras que sigo. A outra, é a da flauta. "Como consegue tocar flauta tão bem, se é engenheiro?", perguntavam. Ele, impassível, respondia: "Se tenho cinco minutos, toco cinco minutos. Se tenho meia hora, toco meia hora, mas toco todo dia". Assim, aproveito, do mesmo modo, todo o tempo livre para fazer o que mais gosto, como ele, que gostava de tocar flauta. Eu posso não deixar guardado tudo que sei, tudo que aprendi, tudo que vi, tudo que me ensinaram. Mas tento, através do que faço, deixar um pouco disso, talvez um vislumbre, uma ideia, para que alguém siga o mesmo exemplo e aprenda.

12/01/2019 - 13h33 
Trajano de Barros Camargo em Nova York, em 1910, aos 20 anos, de pé.



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