"O motivo do
amor é não ter motivos", expressou William Shakespeare em um de seus
sonetos. Num mundo mecânico, procuramos o amor, que não tem motivos para
existir. Apenas existe. Apaixonamo-nos por quem nos faz sofrer.
E somos traídos por quem mais amamos. "Nascemos para amar quem mais nos
fere", escreveu Lawrence Durrell. Se o amor existe sem motivos e amamos
quem nos magoa, nascemos para ser magoados por eles aparentemente sem
razão. A outra máxima de que "tudo que precisamos aprender é a amar e
ser amado", inclui os não-motivos e as ofensas. Sem motivos e feridos,
continuamos a buscar quem nos ame e não nos faça sofrer. Amamos os
poemas que escrevemos para expressar nossa dor e tristeza, saudade e
solidão mais do que a alegria do amor, que decerto soarão "ridículas,
porque se não fossem ridículas" não seriam de amor, como disse Fernando
Pessoa. Rio com a contradição, porque se o amor não buscar apenas a si
mesmo, não será amor. Outro grande escritor, André Breton, também disse,
em "Amor louco", que "o fato (...) de se negar a persistência do amor à
primeira vista e, na vida, a perfeita continuidade entre o possível e o
impossível, é a prova de se haver perdido aquilo que eu considero ser o
único e verdadeiro estado de graça". No posfácio do meu livro "Areal",
escrevi: "O único pensamento é o do ser amado, para quem todas as
palavras se dirigem num determinado momento e durante determinado espaço
de tempo, porque (citando novamente Breton) 'tu és mil, basta decompor
todos os gestos que te vi fazer'. Nessa multiplicidade, que é inerente
ao ser humano, estamos nós, trafegando algum momento paradisíaco que nos
foi concedido, para vislumbrar o futuro como promissor e palpável. (E
novamente Breton) 'Independentemente do que possa ou não acontecer, a
espera é que é, na realidade, magnífica', porque na espera é que estão
todos os atos e que têm, como finalidade maior, o amor".
19/04/2014 - 6h00
19/04/2014 - 6h00
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