sábado, 19 de abril de 2014

Lições de sábado 131

"O motivo do amor é não ter motivos", expressou William Shakespeare em um de seus sonetos. Num mundo mecânico, procuramos o amor, que não tem motivos para existir. Apenas existe. Apaixonamo-nos por quem nos faz sofrer. E somos traídos por quem mais amamos. "Nascemos para amar quem mais nos fere", escreveu Lawrence Durrell. Se o amor existe sem motivos e amamos quem nos magoa, nascemos para ser magoados por eles aparentemente sem razão. A outra máxima de que "tudo que precisamos aprender é a amar e ser amado", inclui os não-motivos e as ofensas. Sem motivos e feridos, continuamos a buscar quem nos ame e não nos faça sofrer. Amamos os poemas que escrevemos para expressar nossa dor e tristeza, saudade e solidão mais do que a alegria do amor, que decerto soarão "ridículas, porque se não fossem ridículas" não seriam de amor, como disse Fernando Pessoa. Rio com a contradição, porque se o amor não buscar apenas a si mesmo, não será amor. Outro grande escritor, André Breton, também disse, em "Amor louco", que "o fato (...) de se negar a persistência do amor à primeira vista e, na vida, a perfeita continuidade entre o possível e o impossível, é a prova de se haver perdido aquilo que eu considero ser o único e verdadeiro estado de graça". No posfácio do meu livro "Areal", escrevi: "O único pensamento é o do ser amado, para quem todas as palavras se dirigem num determinado momento e durante determinado espaço de tempo, porque (citando novamente Breton) 'tu és mil, basta decompor todos os gestos que te vi fazer'. Nessa multiplicidade, que é inerente ao ser humano, estamos nós, trafegando algum momento paradisíaco que nos foi concedido, para vislumbrar o futuro como promissor e palpável. (E novamente Breton) 'Independentemente do que possa ou não acontecer, a espera é que é, na realidade, magnífica', porque na espera é que estão todos os atos e que têm, como finalidade maior, o amor".

19/04/2014 - 6h00


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