sábado, 15 de junho de 2019

Lições de sábado 362

Afinal, a poesia serve para quê?

Poesia é essência e, como tal, deve ser tratada com cuidado. É o que está guardado no cerne das coisas, onde elas estão sós, e em silêncio. A poesia alude quando não diz o que é. Ela aponta sem mostrar direção. Ela faz compreender o incompreensível, e torna o invisível, visível. Entendi mais coisas lendo poesia do que lendo livros de histórias. Fui mais fundo em minha alma quando entendi um poema e ele me atravessou com sua ponta fina e instigante. A pergunta correta é: eu sirvo para a poesia? Eu sirvo a ela do modo como ela me serve? Do modo como ela me traz tudo de bandeja e mão beijada? Ela me trouxe livros, me trouxe amigos, me levou a lugares lindos, só porque eu escrevia poesia. Por causa dela, atravessei oceanos. Nada me levou mais longe. Por causa dela, um livro meu está na Biblioteca de Moscou, onde eu sei que nunca irei. A minha poesia vai aonde eu não vou. Ao lerem o que eu escrevo, eu estou lá. Ao ler um poema, o poeta está aqui. Ele ressurge, revive, retorna. A voz de um poeta não morre, embora o poeta tenha nos deixado há milênios. A poesia serve como chave, como enigma, como tesouro, como lucro, como sorte. Tenhamos a sorte de encontrar o poema que nos diga aquilo que precisamos ouvir, que nos dê a chave para abrir a porta diante de nós, nos revele o segredo contido no enigma, e nos faça encontrar o tesouro escondido na praia. Esse lucro colocamos no coração que trazemos no bolso da blusa e nunca mais o perdemos. Um tesouro guardado no céu, onde nenhuma traça rói, nem ladrão rouba. Da poesia que lemos, ninguém nos tira. Que eu sirva a ela tanto quanto ela serve a mim, ou mais. Para que, através das palavras que escolho, eu diga o que preciso dizer.

15/06/2019 - 13h35  





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