sábado, 13 de setembro de 2014

Lições de sábado 153

Por razões que a razão desconhece, passei horas vasculhando todas as caixas e papéis guardados na minha casa para tentar achar a sentença de separação de meus pais - que não encontrei, mas, em compensação, achei coisas que nunca vira antes, fotos nunca mostradas, porque foram tão guardadas que não entraram nos álbuns. A vida se fragmenta de tal forma que não conhecemos todas as partes. Há coisas que se perdem para serem encontradas um dia por quem nunca pensou ver aquela carta, aquela foto, aquele documento. Lados obscuros e nunca revelados da vida de meu pai. Uma anotação sobre a ex-noiva em 1946. Uma agenda de viagem com impressões de vários lugares por onde passou pelo mundo por quase 20 anos que chega até a mim com a mesma caligrafia que conheço. Coisas que não tive tempo de ver quando me mudei para Copacabana, e ficaram em duas caixas até serem remexidas ontem. Ele de braço dado com Iza no Jardim Botânico, de terno de algodão branco, ela de blusa colorida numa fotografia preto e branco. O que precisamos saber só vem no momento certo, depois de ler as cartas de Iza para papai, e descobrir por que ele se casou com minha mãe, dando causa à minha existência. Uma história de amor, ódio, mentira, traição e vingança nos anos 40. Nem João Corrêa, nem Jean Cândido Brasileiro sabiam disso quando escolheram essa época para criar a dramaturgia de "Breve anunciação", nem eu quando escrevi os poemas que formam os diálogos da peça. Mas tudo tem um propósito, mesmo que não saibamos. Depois de mais uma temporada, e de voltar à história vivida por papai ontem à noite, entendo que os mistérios só levam um pouco de tempo para se revelar, mas um dia saberemos tudo.

13/09/2014 - 19h35


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